Experimente conversar com alguém que gosta de literatura japonesa. Um leitor de O Som da Montanha, de Yasunari Kawabata (1899-1972), por exemplo. É provável que este alguém faça restrições severas à literatura de Haruki Murakami, torcendo o nariz por se tratar do escritor japonês vivo mais "ocidentalizado" de que se tem notícia.
Talvez essa característica explique o sucesso de Murakami, hoje com 61 anos, em países como os Estados Unidos, ou revele algo sobre o Japão atual. O país deixa a lentidão e o silêncio da cerimônia do chá pela confusão e pelo volume de um karaokê.
Em livros como Kafka à Beira-mar e Após o Anoitecer (ambos pela Alfaguara), Murakami impõe um ritmo cinematográfico ao texto e usa referências do rock-and-roll e do pop. O autor que é também maratonista chegou a batizar um de seus romances com o nome de uma música dos Beatles, "Norwegian Wood".
Apenas uma fração pequena da literatura japonesa contemporânea é traduzida para o português. A Estação Liberdade, com um catálogo pródigo em títulos do país de Eiji Yoshikawa (do clássico Musashi), publicou há pouco Quinquilharias Nakano, de Hiromi Kawakami, 52 anos.
A Companhia das Letras é quem edita no Brasil o vencedor do Nobel de Literatura Kenzaburo Oe, de Uma Questão Pessoal. Oe tem 75 anos e um novo trabalho recém-traduzido em inglês, The Changeling, uma versão ficcionalizada do suicídio de seu cunhado, o cineasta Juzo Itami.
"Autores como a Kawakami [de Quinquilharias Nakano] fazem bastante referência à cultura ocidental", diz o editor Leandro Rodrigues, da Estação Liberdade. Ele explica que os autores atuais estão mais ligados ao caos das metrópoles e um ficcionista que vive em Tóquio acaba criando histórias que se aproximam daquelas produzidas por alguém que mora em São Paulo.
Quem procura narrativas que falem de tradições japonesas e de características exóticas para os ocidentais, com certeza, deve buscar nomes mais antigos. Porém, de acordo com Rodrigues, o leitor atual está em busca de algo "mais contemporâneo".



