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Autora escreveu “Vozes de Tchernóbil” e “A Guerra Não Tem Rosto de Mulher”, sobre a presença feminina no Exército Vermelho na Segunda Guerra. | Margarita Kabakova/Divulgação
Autora escreveu “Vozes de Tchernóbil” e “A Guerra Não Tem Rosto de Mulher”, sobre a presença feminina no Exército Vermelho na Segunda Guerra.| Foto: Margarita Kabakova/Divulgação

Quando Svetlana Aleksiévitch chegou a Tchernóbil, viu soldados trabalhando para conter o fogo do acidente nuclear de 1986. Apesar dos esforços, “todos compreendiam que nada funcionaria: havíamos sido deslocados para outro mundo, para outro tipo de morte”, contou a Nobel de literatura na tarde de terça-feira (5), durante encontro com leitores no Sesc Consolação, em São Paulo.

A escritora bielorrussa de 68 anos, uma das estrelas da 14ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), afirma que, a partir daquele 26 de abril, as pessoas se ocuparam com coisas que nunca haviam feito. “Como lavar a madeira para não pegar fogo”, lembra. “Era outro mundo.”

Ela conta que crianças foram levadas de Tchernóbil para a Sibéria para o período de descontaminação. No caminho, diz, “as pessoas tinham medo delas, de que passassem radiação”.

Eu não posso mais estar em campo de guerra, não tenho mais forças para isso

Svetlana Aleksiévitch escritora

Alguns dos sobreviventes relataram seus sofrimentos em “Vozes de Tchernóbil” (Companhia das Letras). Foram umas 700 entrevistas, diz a escritora. “Elas são... Nós somos caixas-pretas.”

Algumas das pessoas procuraram a escritora depois de darem depoimentos para o livro. Queriam complementar declarações porque, diz ela, estavam próximas da morte. “A palavra é importante para nós, pois é o que sobra depois que se morre”.

Amor

O ciclo de obras sobre tragédias - que tem ainda “A Guerra Não Tem Rosto de Mulher” (Companhia das Letras), sobre mulheres que lutaram no Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial - está no fim.

A bielorrussa decreta: “Já falei tudo sobre guerras”. Suas próximas obras devem tratar de amor e de velhice.

“Eu não posso mais estar em campo de guerra, não tenho mais forças para isso”, diz.

Na Flip ela também havia comentado que não escreverá mais sobre períodos sombrios da história: cansou-se de “ver corpos aos pedaços”.

Nem por isso a nova empreitada - escrever sobre o amor - será mais fácil do que a tarefa de “fazer uma obra artística e filosófica” sobre uma tragédia. “Para mim, (guerras e catástrofes) eram transparentes, significavam tomar o lado do bem. Já o mundo do amor é uma construção tão complicada.”

Ela lembra que a literatura russa - sobretudo a atual - não tem o amor como assunto predileto. “Fala sobre destinos humanos e conflitos, mas nunca sobre amor.”

Desafiada pela mediadora Patrícia Campos Mello a dizer o que era o amor, Aleksiévitch não soube afirmar. Devolveu a pergunta à jornalista, e o encontro acabou sem a resposta.

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