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Soares ouviu muita coisa quando foi secretário nacional de Segurança, em 2003. | Paula Giolito/Divulgação
Soares ouviu muita coisa quando foi secretário nacional de Segurança, em 2003.| Foto: Paula Giolito/Divulgação

Rio de Janeiro. Cidade da festa e do samba. Sensualidade, praia e natureza exuberante. Criativa, acolhedora, “malandra”, no bom sentido; maravilhosa, enfim. Essas qualidades constam dos anúncios de pacotes de viagens que vendem a experiência de conhecer o Brasil a partir do Rio em agências pelo mundo afora.

No livro “Rio de Janeiro – Histórias de Vida e Morte”, o antropólogo Luiz Eduardo Soares mostra que, ainda que alguns dos itens do clichê sejam inegáveis, a experiência urbana no Rio é amplamente superada por aspectos negativos que impõem a necessidade de reinventar a cidade – que no livro serve, mais uma vez, como metáfora do Brasil.

Em sete histórias vividas na própria pele, Soares narra, com inspiração nos melhores cronistas urbanos, o processo de sedimentação da violência na cidade. São histórias de abusos policias, atentados mafiosos, esquemas de corrupção, conchavos políticos que testemunhou.

“A violência é autorizada pela sociedade, tolerada — quando não incitada — pelos gestores do Poder Executivo, admitida pelo Ministério Público e abençoada pela Justiça, salvo quando os casos chegam à mídia e provocam alguma comoção. Claro que há exceções, honrosas e admiráveis que, de um modo geral, confirmam a regra”, disse Soares em entrevista à agência RBS.

Na primeira história, Soares confessa sua ingenuidade absoluta quando, no auge da notoriedade dos livros que se transformaram nos filmes “Tropa de Elite”, foi convidado para ser candidato a vice-governador do Rio pelo PT e depois secretário nacional de Segurança, de janeiro a outubro de 2003, durante a Presidência de Lula.

Rio de Janeiro – Histórias de Vida e Morte

Luiz Eduardo Soares. Cia. das Letras. 256 pp. R$ 39. Não ficção.

Na condição de testemunha “de dentro”, ele narra como ouviu pela primeira vez os nomes do então ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu e do ex-deputado Roberto Jefferson dois anos antes de a dupla protagonizar a eclosão do escândalo do mensalão.

No cargo de secretário nacional, Soares tenta afastar um superintendente da Polícia Rodoviária Federal envolvido em caso grave de corrupção. Descobre pelo ministro da Justiça que não há o que fazer, pois o Jefferson “já negociou este cargo com o Zé Dirceu”.

Os textos de Soares equiparam-se aos melhores relatos de não ficção, entre o ensaio e a reportagem confessional. Ele conta a história do dono da favela da Maré decidindo o que fazer nas vésperas da instalação da UPPP, do homem de classe média que vira um traficante internacional de cocaína e outras que mostram um pouco do cotidiano da violência em vários níveis.

O livro é empolgante como um thriller de suspense, difícil de largar. Soares organiza suas ideias de maneira clara e inteligente, para mostrar um Rio (e um país) sem lideranças legítimas, sem projeto coletivo, envolvido em ódio e violência e que precisa “trocar de pele”, como uma serpente.

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