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literatura

Donald Barthelme faz rir e matutar em “O Pai Morto”

Um dos escritores favoritos de David Foster Wallace tem obra lançada no Brasil após 40 anos. Com humor único, livro mescla diversos estilos literários

Autor foi influenciado por Samuel Beckett e James Joyce. | Divulgação
Autor foi influenciado por Samuel Beckett e James Joyce. (Foto: Divulgação)

Na sala de espera, um riso inesperado e mais alto do que o previsto assustou a senhora ao meu lado, que disse “deve ser divertido isso aí”. Meio sem jeito, concordei. Ela perguntou que livro era aquele. Mostrei-lhe a capa: “O Pai Morto”. “É engraçado mesmo com esse título triste?”, quis saber. Sim, muito. E não só isso.

Publicado originalmente nos Estados Unidos em 1975, o livro de Donald Barthelme (1931-1989) chegou ao Brasil pela primeira vez neste ano – foi lançado pela Rocco em julho, com tradução de Daniel Pellizzari. A história é surreal: um cortejo para enterrar o Pai Morto, figura gigantesca que possui uma perna mecânica e não está totalmente convencida sobre o fim de sua existência. Através de cabos de aço, os responsáveis por carregar o pai são Thomas, filho que lidera o grupo, e sua namorada Julie. Juntam-se ao cortejo Emma, amante de Thomas, e o alcoólatra Edmundo, o outro filho, além de operários que ajudam no transporte – e demandam melhores condições de trabalho.

Se o mote é como um filme de Luis Buñuel (1900-1983), as ferramentas utilizadas por Barthelme para dar cabo da história são uma colagem literária: há mesclas de gêneros e estilos, definições enciclopédicas, diálogos levianos e digressões metafísicas, tudo banhado num humor sarcástico.

Barthelme também foi pioneiro na utilização de desenhos para ilustrar passagens do texto, trunfo que o caracterizou como um dos pioneiros do pós-modernismo literário.

Contradições

Durante a jornada, O Pai Morto – mesquinho e tirânico – questiona frequentemente sua morte física, elucubrando possibilidades para permanecer neste mundo.

Como se fosse um “todo poderoso”, ele tem a capacidade de matar animais e os próprios filhos, embora esteja sendo carregado por eles para um funeral.

São essas contradições nas relações entre pais e filhos e, num plano mais profundo, certa veneração ao existencialismo, as principais marcas desta obra, tão engraçada quanto desafiadora.

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