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Para Drauzio Varella, correr exige paz, saúde e disciplina. Ele começou a praticar corrida aos 50 anos, depois de um amigo dizer que a decadência do homem começa, justamente,  aos 50. | Roberto Custodio/Jornal de Londrina
Para Drauzio Varella, correr exige paz, saúde e disciplina. Ele começou a praticar corrida aos 50 anos, depois de um amigo dizer que a decadência do homem começa, justamente, aos 50.| Foto: Roberto Custodio/Jornal de Londrina

É impossível ler Correr, novo livro de Drauzio Varella, e não sentir uma pontinha de inveja do homem.

Médico oncologista, escritor, voluntário em uma prisão, pesquisador do uso medicinal de espécies da amazônia e uma espécie de celebridade da televisão, onde atua com campanhas de saúde em programas como o Fantástico, da Globo, a agenda do doutor Drauzio é cheia. Mesmo assim, ele arranja tempo e disposição, aos 70 anos, para treinar para maratonas de corrida de 42 quilômetros.

Reprodução

A obra é uma inspiração para quem deseja sair do sedentarismo e adotar a corrida – um esporte barato e seguro –, e um guia para corredores. A obra faz um panorama bastante completo da prática de correr, desde as suas origens históricas, até cuidados básicos que, se não forem tomados, podem se tornar um pesadelo na hora de uma maratona.

Por exemplo: em uma maratona que correu no Rio de Janeiro, o médico acordou sobressaltado, se vestiu rapidamente, e esqueceu de bonés e óculos escuros – amaldiçoou ele mesmo por não ter deixado tudo separado na véspera, como sempre faz.

Também esqueceu de aparar as unhas dos pés, um erro que já fez muito corredor perder as unhas, e de colocar um esparadrapo nos mamilos, o que evita que o atrito da camiseta com a área cause sangramento. Foi o que aconteceu com ele: chegou com duas marcas de sangue, mas garante: foi a maratona mais bonita que correu.

Livro

Correr – O Exercício, a Cidade e o Desafio da Maratona

Drauzio Varella. Companhia das Letras, 208 pp., R$ 29,90.

Esse é outro aspecto interessante que Drauzio coloca ao longo dos relatos das maratonas que correu pelo mundo: o quanto a paisagem da cidade encanta e influencia o corredor.

Em 2009, quando participou, aos 66 anos, da maratona de Chicago ao lado da filha Letícia, 32 anos mais jovem, se encantou pelos prédios e pela estrutura da cidade. Afinal, conta ele, que seguiu naquele dia o ritmo da filha, a corrida se tornou “um passeio descontraído.”

Pernas

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Depois da pontinha de raiva que sentimos com essa afirmação, vem o raciocínio e o exemplo do próprio autor de que, para correr, não é necessário ser jovem. Ele começou aos 50 anos, depois de encontrar um antigo colega que lhe disse que a “decadência do homem” começava na quinta década. Drauzio não aceitou o prazo etário, pois tinha fôlego de sobra depois de abandonar o cigarro, 13 anos antes. Botou na cabeça que correria a maratona de Nova York, em 1993. E cumpriu a promessa.

Na manhã seguinte, os músculos das pernas, castigadas pelo esforço da véspera, estavam dilacerados. Sair do carro no estacionamento do hospital foi um parto a fórceps. Mal dei o primeiro passo, um colega veio em minha direção: ‘Nossa! O que aconteceu? Foi operado?’ . ‘É que ontem corri uma maratona’, respondi. ‘Quarenta e dois quilômetros?’, ele replicou com olhar de comiseração. ‘Isso faz mal para o ser humano’.

Trecho do livro Correr, de Drauzio Varella

Sinceridade

Num tempo em que a vida saudável é muito valorizada , é comum que nas redes sociais proliferem de fotos de corrida/treinos/academia, com pessoas super felizes, dizendo que acordam já cheios de vontade de fazer exercício. Balela total. E o médico explica: a espécie humana não foi programada para perder gordura, e sim para acumular, uma reserva para os momentos de perigo, quando é necessário fugir do predador. “Você já viu uma Girafa correndo para perder a barriga?”, questiona Drauzio.

Segundo ele, todas as vezes que treina (em média, quatro vezes na semana), ele se questiona, no primeiro quilômetro, por que está fazendo aquilo com ele mesmo. Uma tortura. Há vários momentos de raiva e cansaço inimaginável em uma maratona. O que o move? Primeiro, é necessário ter disciplina militar. Encarar o exercício como um compromisso diário.

A segunda, é a paz de espírito que conquistou pela corrida. É o que faz ele aguentar o tirão do dia a dia.

O terceiro: a saúde tinindo. Aos “7.2”, Drauzio pesa apenas dois quilos a mais do que quando saiu da faculdade. Não tem doenças crônicas nem precisa tomar remédios de uso contínuo. Alguem ainda duvida dos benefícios da corrida?

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