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Literatura

Livro de ensaios de Janet Malcolm consegue ser muito verdadeiro

“41 Inícios Falsos” reúne textos publicados nas últimas três décadas que falam sobre arte, escrita e biografia

 | Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo
(Foto: Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo)

Janet Malcolm, 82 anos, pertence a uma geração de jornalistas que julgava impossível traçar o perfil de um entrevistado sem conviver com ele.

Essa fidelidade ao compromisso firmado com o outro, a despeito do ceticismo com que Malcolm encara a profissão, levou a repórter, biógrafa e ficcionista a criar histórias extraordinárias sobre gente ordinária, que paga assassinos para matar pessoas próximas, como em “Anatomia de Um Julgamento”.

Seus personagens favoritos, no entanto, são artistas e escritores, as principais profissões abordadas em “41 Inícios Falsos”, publicado pela Companhia das Letras, a mesma de outros três livros seus: “O Jornalista e o Assassino” (2011), “A Mulher Calada” (2102), análise crítica das biografias da poeta Sylvia Plath, e “Anatomia de Um Julgamento” (2012).

Um dos nomes mais prestigiados da revista “New Yorker”, Janet Malcolm desconfia que os biógrafos sejam um pouco como ladrões – e que seus leitores não passem de voyeurs. Sua opinião sobre o jornalismo não é muito diferente. Não é uma profissão que ajude alguém além do próprio jornalista, argumenta.

Ela, por exemplo, assume o oportunismo jornalístico ao revelar em “41 Inícios Falsos” a fragilidade intelectual do fotógrafo alemão Thomas Struth quando este confessa não ter lido Proust.

A despeito disso, Struth ousa traçar uma analogia entre o trabalho do fotógrafo Eugène Atget e a literatura do romancista francês. Malcolm, então, pergunta o que Atget tem a ver com Proust. Struth silencia. O circo desaba.

Por seu livro, uma reunião de textos publicados nos últimos 30 anos, desfilam outros fotógrafos, como Edward Weston e Diane Arbus, artistas visuais – David Salle, Richard Serra – e escritores, de Virginia Woolf a Salinger, passando por Joseph Mitchell.

Alguns textos, mais longos, como “Uma Casa Toda Sua” (1995), sobre a lenda modernista de Bloomsbury (Virginia Woolf e companhia), outros mais curtos, como “Reflexões Sobre Uma Autobiografia Abandonada” (2010), em que confessa seu tédio ao encarar o projeto de contar a própria vida.

A memória, diz ela, não é uma ferramenta de jornalista. A memória não mostra nada com nitidez. E o jornalista ainda corre o risco de atrofiar seus poderes de invenção, por causa da obsessão pela objetividade que tem o jornalismo diário, conclui.

Por fim, diz ela, a autobiografia é um exercício “de perdoar a si mesmo”. Melhor cuidar da vida alheia. E isso ela faz bem.

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