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Lucinda Riley: escritora esteve em Curitiba nesta quarta-feira (07) | /Divulgação
Lucinda Riley: escritora esteve em Curitiba nesta quarta-feira (07)| Foto: /Divulgação

Um leitor desavisado poderia achar estranho que uma escritora irlandesa de best-sellers como Lucinda Riley tenha escolhido o Brasil para lançar o seu mais novo livro, ‘A Irmã da Sombra’, terceiro volume da série ‘As Sete Irmãs’, publicado pela editora Arqueiro. Não demora muito também para demonstrar que o que pode ser tomado como exotismo se trata, na verdade, de um profundo caso de amor pelo país.

O primeiro livro da saga, intitulado ‘As Sete Irmãs – A História de Maia’, é ambientado no Rio de Janeiro do presente e da década de 20 – fruto de uma pesquisa extensa que a escritora fez em duas visitas anteriores ao Brasil -- em 2012 e 2014 -- além de uma obsessão geográfica. “Eu costumava assistir a esses filmes em preto e branco, como os da Carmen Miranda, ‘Flying Down to Rio’ (‘Voando para o Rio’), e ficava fascinada pela cidade, pela floresta amazônica. Não sei exatamente o que me encantou, é difícil descrever quando se é uma criança de quatro anos morando na Irlanda”, conta a escritora em entrevista exclusiva para a Gazeta do Povo, um pouco antes do encontro com seus leitores promovido pelas Livrarias Curitiba, no Shopping Palladiumn na tarde da última quarta-feira (7).

A ansiedade por visitar o país pela primeira vez cresceu quando editoras brasileiras se interessaram por sua obra. “Eu já havia sido traduzida para muitos países, mas não para cá. Quando finalmente aconteceu, pensei ‘meu Deus, vou poder visitar o Brasil?’, mas meu editor disse que não era nada garantido. Aí veio a Bienal [de 2012]”, lembra animada. “Na época, paguei minha viagem de São Paulo para o Rio porque precisava ver o Cristo [Redentor] de perto. Quando eu vi, ele não era branco, mas um pouco escuro, e dava pra ver as montanhas atrás. Eu desabei em lágrimas naquela hora. Eu já sabia que escreveria ‘As Sete Irmãs’, mas depois daquilo, soube que deveria começar pelo Brasil”, completa a “escritora irlandesa mais Brasileira de todos os tempos”, como é chamada.

A Irmã da Sombra

Editora Arqueiro

tradução: Fernanda Abreu

512 páginas

Preço: R$ 49.90, e-book R$ 29.99

Wanderlust

O fascínio por lugares longínquos, entretanto, não para na terrinha. Em ‘As Sete Irmãs’, a morte do milionário patriarca Pa Salt dá início a uma aventura pessoal a cada uma de suas sete filhas adotivas, todas batizadas a partir de uma das estrelas das Plêiades e todas oriundas de lugares diferentes do globo. Maia e sua aventura por terras cariocas – que encontra paralelos na história de uma personalidade da belle époque carioca e a construção do Cristo Redentor – foi apenas o começo. Nos volumes seguintes, ‘A Irmã da Tempestade’ e a ‘Irmã da Sombra’, respectivamente, a trama se ambienta na Noruega e em Londres.

A escritora atribui sua wanderlust ao pai, diretor de uma companhia têxtil que estava sempre em rota. “Eu viajei com ele por muitos lugares quando era criança, e essa vontade não passou. Tenho verdadeiro prazer em explorar o mundo”, confessa a também autora do romance ‘A Garota Italiana’. O cerne da história das irmãs encontra eco nas crenças pessoais de Lucinda. “Minha história é marcada por essas viagens, e hoje escrevo sobre esse bem imaterial que é a nossa herança familiar”, analisa.

Pesquisa

‘As Sete Irmãs envolve’ muito trabalho de pesquisa por parte da autora. Lucinda conta que em sua visita ao Rio, não se limitou a visitar museus, bibliotecas e locais históricos. “Qualquer um pode ler na internet sobre a construção do Cristo Redentor e sobre como era o Rio e sua economia nessa época, e coisas assim. A minha maior pesquisa foi falando com brasileiros, tentando entender a alma brasileira e o que é o Brasil. Tenho a impressão de que muito pouca gente de fora realmente conhece o país”, diz.

A isso, Lucinda Riley credita o diferencial de sua literatura. “Acredito que meus livros sejam um olhar feminino sobre a cultura de cada lugar. Os homens tendem a explorar muito a história por meio de guerras e políticas. Eu prefiro uma abordagem mais delicada e profunda sobre as pessoas”, conta.

Muito embora seus livros abordem histórias paralelas em épocas diferentes, Lucinda renega o rótulo de fantasia para sua obra. “Todas as vezes que eu publico um livro, recebo cartas de pessoas dos países que retratei que dizem ‘eu estava lá’ ou ‘minha família estava lá. Nós fizemos parte dessa história e foi assim mesmo que aconteceu’. Não há a menor possibilidade de ser fantasia”, afirma.

Outras paragens

Lucinda revela pouco sobre os próximos livros da série ‘As Sete Irmãs’, mas já não esconde a ambientação dos romances. “Quero fazer um livro sobre a Tailândia, outro na Austrália e um na Espanha”, comenta.

Ela garante que a origem das irmãs tem pouco a ver com suas escolhas pessoais. “Eu nunca escrevo um livro esquematizado, as histórias vêm até mim no momento em que eu as escrevo. Volta e meia me pego brigando com uma das personagens, do tipo ‘por que você está fazendo isso?’ ou ‘por que você está se apaixonando por esse cara?’”, ri.

De todos os países, a Austrália era o mais improvável. “Eu jamais iria para lá, tenho muito medo daqueles insetos venenosos e gigantescos. Mas tive que ir, porque era o que uma das personagens estava me exigindo”, conta. “Quando me vi no meio do deserto vermelho australiano, e de lá vi a constelação das Sete Irmãs [Plêiades, também chamada de Sete-estrelo], soube que estava no lugar certo”.

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