
“Eu considero este o meu primeiro livro”, diz Jonathan Safran Foer, uma declaração que, ao pé da letra, não faz o menor sentido.
“Here I Am” (“Aqui Estou”) é o quarto livro de Foer, um catatau com o dobro do tamanho dos seus livros anteriores, uma obra arriscada, que narra a história de quatro gerações de pais e filhos, o seu primeiro romance após mais de uma década e o primeiro ambientado em sua cidade natal, Washington, D.C.. “Também penso nele como um livro curto, um livro rápido, de ler virando as páginas”, ele afirma.
“Here I Am” trata de divórcio, de Israel, da zona noroeste de Washington e de sexo virtual e demorou, “ou 10 meses, ou 25 anos para escrever”, diz Foer, sugerindo que é possível que ele tenha exigido uma vida inteira de experiências ou menos de um ano sentado à frente do computador.
Foer é um dos romancistas de maior destaque de Washington, que, por acaso, mora no Brooklyn. Sentado num café perto de sua casa em Boerum Hill, ele parece ter bem menos do que os seus 39 anos, ainda que se comporte de forma consideravelmente mais velha, com graciosidade. Ele responde a todas as perguntas, até mesmo àquelas que pode não querer responder, ainda que muitas vezes suas respostas sejam em forma de koans, como se seguir pelo caminho mais longo fosse mais interessante.
“Eu considero o meu primeiro livro uma experiência”, ele diz, se lembrando do quanto ficou aturdido de ter escrito um romance tão aclamado pela crítica quanto o “Tudo se Ilumina”, a história da viagem de um jovem até a Ucrânia para encontrar a mulher que salvou seu avô dos nazistas. Foer se lembra da sensação de maravilhamento ao observar seu manuscrito surgir da boca de uma impressora coletiva enquanto ele ainda cursava a graduação na Princeton, orientado por Joyce Carol Oates.
“O segundo livro foi uma resposta ao primeiro”, ele diz, se referindo a “Extremamente Alto e Incrivelmente Perto”, que trata da busca de um menino de 9 anos após a morte do seu pai no atentado ao World Trade Center.
Após seu primeiro romance ter sido rejeitado a princípio por uma série de agentes e editoras, publicado enfim só na primavera de 2002, Foer acabou conquistando o bilhete dourado da loteria literária. Suas obras se tornaram sucessos de crítica, best-sellers e filmes – seu segundo, aliás, contava com Tom Hanks e Sandra Bullock no elenco. “Comer Animais”, publicado em 2009, uma investigação sobre a indústria alimentícia norte-americana e sua própria luta com o vegetarianismo, também vendeu muito e foi muito elogiado.
Ele mora num casarão de US$5,4 milhões e tem um relacionamento com uma atriz famosa (Michelle Williams) enquanto troca e-mails com outra (Natalie Portman) – e-mails estes, aliás, que foram publicados recentemente num suplemento de moda do New York Times. Poucos dos principais escritores norte-americanos são amigos, segundo diz, mas Foer mesmo parece conhecer vários deles.
Ele é famoso entre os Jonathans (os outros dois sendo Lethem e Franzen, este um amigo próximo) e também é um dos Foer (o irmão do meio entre Franklin e Joshua, ambos escritores).
Mas ele se considera escritor por acidente. Seus planos eram virar médico. “Há um certo tipo de liberdade que eu valorizo”, diz. “A literatura foi a melhor aproximação do tipo de vida que eu queria”.
Diz seu editor, Eric Chinski: “A literatura para ele se tornou um modo de comunicar outras coisas, lutar com questões emocionais – e, nesse livro, são questões políticas e familiares – não só a literatura pela literatura”.
Paternidade
“Here I Am” é a primeira obra de Foer desde que se tornou pai de dois filhos (que agora têm 10 e 7 anos) e desde o seu divórcio da romancista Nicole Krauss, autora de “A História do Amor”. Seu novo romance, que será publicado em 25 países, se concentra no divórcio de um casal com três filhos, cujo estopim é a descoberta de um celular secreto com uma torrente de mensagens sexuais. Krauss leu o manuscrito, ele disse. Não foi difícil escrever sobre divórcio.
“Teria sido, se Nicole estivesse chateada. Mas não é o caso”, ele diz. “Somos muito próximos. Não tem nada no livro, na verdade, que dê para reconhecer”.
É possível, porém, procurar o biográfico no livro. “Ele não é autobiográfico”, diz Chinski, “mas tem uma base muito firme na experiência pessoal e energia emotiva”.
Explosão
O grande trauma de Jonathan foi uma explosão em 1985 na Murch Elementary School, em que ele foi uma das quatro crianças gravemente feridas enquanto manuseavam fogos de artifício num evento de ciências. Ele considera transformar a experiência num romance também.
A literatura lhe deu a vida que sempre quis, mas ele vê uma certa absurdidade no exercício.
“A literatura é uma existência diária particularmente mundana. É a coisa mais mundana que tem. Você senta numa mesa na frente do computador. Ou com uma folha de papel em branco. Você não está conversando de verdade com mais ninguém. Você não está indo ver o mundo. É a coisa mais sedentária no mundo”, ele diz. “A parte boa da literatura é que ela é tão não-óbvia. Eu diria que é a coisa menos óbvia que qualquer coisa pode ser – até menos do que trabalhar com banco de investimento”. Nisso, ele faz uma pausa. “Mas obviamente eu mesmo cheguei a algum tipo de resposta”.
Ele é aquele raro tipo de autor que fica ansioso para fazer a turnê do livro, passando por muitas cidades e países, e parece contente em falar de sua obra.
“É super agradável, maravilhoso. Eu passei muito tempo sem falar com os leitores”, ele diz, antes de sair correndo para Manhattan, onde tem uma sessão marcada com seu terapeuta. “Os leitores multiplicam a riqueza do livro, a experiência. É óbvio que eu me dediquei muito ao livro, tentei produzir o melhor livro possível, mas o seu sentido não é algo que pertença a mim”.



