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Imagem de Prometeu feita por Theodoor Rombouts | Wikimedia Commons/
Imagem de Prometeu feita por Theodoor Rombouts| Foto: Wikimedia Commons/

Por que alguém lê poesia?

O que entendo é que existe algo de mais ou menos universal, na medida em que dá para descrever qualquer coisa como “universal”, no que se pode chamar de “o poético”, que não é sinônimo de poemas ou poesia escrita, mas se refere a um tipo de “ressonância”, por assim dizer, entre uma percepção de experiência de vida e uma formulação de linguagem, seja ela um poema impresso, um canto mítico tribal, um salmo (as pessoas esquecem, mas vários livros da Bíblia são poesia hebraica) ou uma canção de trabalho – reservadas, é claro, as devidas diferenças de forma e constituição comunitária entre essas coisas.

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Quando um adolescente ouve uma música da sua banda favorita e rabisca os versos no caderno ou os repete em alguma rede social, ele está passando por essa experiência também. Para a maior parte da população é a música que cumpre esse papel. A poesia escrita, então, que é uma invenção relativamente recente (sobretudo a poesia composta como escrita para ser reproduzida e lida), é um outro modo de se conseguir esse efeito, um modo mais livre em alguma medida (pois o poema não precisa estar atrelado a uma composição melódica e, com ela, todo o conhecimento adicional sobre música e toda a parafernália envolvida na produção musical contemporânea), e dedicado de forma mais focada e direta a esse efeito – e é por causa desse objetivo que o poema, quando falha, falha catastroficamente, o que é desde a Antiguidade motivo de piada. Isso permite que ela seja um campo onde podem ser experimentadas formas novas e diferentes do poético, e, por consequência, formas diferentes de se pensar, considerando que só se pode pensar através da linguagem.

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A pergunta em si (e a concepção por trás dela que é bem comum) pressupõe que os leitores profissionais de poesia começaram primeiro estudando esse jargão arcano todo no vácuo e só depois passaram a ler poesia... o que é bem absurdo, porque se você não tira qualquer tipo de prazer da leitura de poesia, estudar o jargão vai ser um suplício.

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E, suplício por suplício, melhor estudar qualquer outra coisa que dê dinheiro em vez disso. O que acontece é o contrário: a gente resolve ir atrás dessas coisas porque já era leitor e resolveu que valia a pena ir mais a fundo. A leitura ingênua é o passo inicial: esbarrar naquele autor ou autora que pela primeira vez te fez sentir alguma coisa em seu uso das palavras. Depois você vai atrás de outros poetas parecidos, do mesmo meio que aquele primeiro, e dos poetas que os influenciaram (e facilitar esse contato, mostrando que existe todo um mundo de autores de todo tipo, deveria ser o papel do professor de literatura na escola). Aí, quando você vê, você fez um bacharelado em Letras, porque esse tipo de coisa te impeliu a isso. Eu acredito que o que pesa mais para um leitor iniciante é talvez a intertextualidade, quando poetas citam ou fazem referência a outros autores anteriores, mas, mesmo assim, isso se resolve fácil, e, em todo caso, se um poeta lhe diz que você não gostou do livro dele porque precisava ter estudado x ou y antes (o que já me disseram isso, aliás), há grandes chances de ele ser simplesmente um poeta ruim.

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