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Ted Chiang vive de ensinar programas de software em grandes empresas. | Arturo Villarrubia
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Ted Chiang vive de ensinar programas de software em grandes empresas.| Foto: Arturo Villarrubia /Divulgação

Dois mil e dezesseis foi um ano em que a ficção científica esteve em alta. Mais do que isso, um ano em que o gênero não se limitou apenas a tentar prever o futuro; ele colocou-nos para pensar qual nosso papel nessa perspectiva sombria que cerca a humanidade. Duas das séries de maior sucesso no ano, “Black Mirror” e “Westworld”, questionaram os limites da relação entre humanos e a tecnologia. Um dos filmes mais celebrados da safra atual, “A Chegada”, usa extraterrestres para falar de comunicação e empatia.

Um momento bastante oportuno para sermos apresentados a Ted Chiang. O escritor americano de traços orientais é o autor de “História da Sua Vida”, conto de 1998 no qual se baseia “A Chegada”. Nome mais importante da literatura de ficção científica contemporânea, com quatro prêmios Nebula e quatro Hugo (os principais do gênero), ele teve sua primeira obra lançada no Brasil somente no final do ano passado, na esteira do filme. “História de Sua Vida e Outros Contos” (Ed. Intrínseca) é a reunião dos sete primeiros textos escritos por Chiang, entre 1990 e 2002.

Aos 49 anos, Ted Chiang tem uma trajetória que foge do estereótipo comum à maioria dos escritores de ficção. Formado em ciência da computação, escreve textos técnicos e vive de ensinar software a programadores de grandes empresas, como a Microsoft. Essa atividade ajuda a explicar duas coisas. Primeiro, o fato de não ser um autor prolífico. Em 25 anos, são apenas 15 contos publicados (número pequeno comparado a outros escritores).

História da Sua Vida e Outros Contos

Ted Chiang. Editora Intrínseca. 368 páginas. R$ 33,70 e R$ 29,90 (e-book)

Segundo, a habilidade em escrever histórias essencialmente humanas, mas com embasamento técnico invejável. É o caso de “A História da Sua Vida”, no qual uma linguista é chamada para decifrar a linguagem de extraterrestres que chegaram à Terra. Diferente do filme, que se concentra no contato com os alienígenas, a narrativa literária se divide em duas frentes, a do estudo linguístico e da relação da protagonista com a filha. A primeira altamente técnica e detalhada, a segunda, impressionantemente humana. Ambas intimamente relacionadas.

A habilidade em transitar por diferentes terrenos pode ser conferida em outros contos do livro. “A Torre da Babilônia”, primeiro trabalho de Chiang, aborda fé e teologia ao contar a história de trabalhadores de uma torre que chega aos céus. “Divisão por Zero” mostra como a matemática é capaz de arruinar o relacionamento de um casal. “Setenta e Duas Letras”, de 2000, é uma abordagem das mais interessantes sobre a questão da clonagem, em voga à época.

Filosofia na prática

Em entrevista ao site Electric Literature, Ted Chiang explica que não é um escritor tão prolífico quanto seus pares porque, antes de escrever, precisa ter bem claro onde sua história começa e vai terminar. “Somente quando vislumbro uma conclusão me sinto apto a começar a escrever. Eu preciso ter meu destino em mente. Não preciso ter a história inteira trabalhada em detalhes, mas uma ideia geral do que deve acontecer”, explica.

Se em termos técnicos o escritor diz levar tempo pesquisando sobre os assuntos que pretende abordar, no que se refere a filosofia, garante nunca ter a intenção de “ensinar alguma moral”. “Se questões filosóficas abstratas fossem a única coisa na qual eu estivesse interessado, provavelmente escreveria algum tipo de não-ficção. Mas acredito que questões filosóficas são mais interessantes quando têm consequências na vida de uma pessoa”, conclui.

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