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literatura

Litercultura traz Valter Hugo Mãe

Um dos mais expressivos escritores da literatura contemporânea faz uma palestra única nesta quinta-feira em Curitiba

Ingressos para a palestra do escritor Valter Hugo Mãe em Curitiba se esgotaram em menos de uma hora | Mario Santos/ Divulgação
Ingressos para a palestra do escritor Valter Hugo Mãe em Curitiba se esgotaram em menos de uma hora (Foto: Mario Santos/ Divulgação)
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Com 42 anos, Valter Hugo Mãe tem a camisa, segundo os padrões literários, de jovem romancista. O angolano de Saurimo, radicado em Portugal desde criança, além da precocidade ficcional, é um excelente poeta, cronista, proprietário do selo Quasi Edições, artista plástico e apresentador de televisão.

Múltiplo, Mãe – seu nome é Valter Hugo Lemos: o estranhamento estético do autobatismo acostuma – também ataca peculiarmente de compositor e músico. Além de DJ, é vocalista da banda de "rock" Governo, que, se não bastasse o incolor do nome, pratica um som, algo como um pós-fado, homogêneo: uma audição é suficiente.

À margem do que comete musicalmente, Mãe é, com mais de vinte livros lançados e quinze anos de carreira, uma das maiores acontecências da língua portuguesa do século 21. E não apenas isso. Sua voz (não a musical) consegue realizar um tipo especial de crossover: autor de grande potência formalista, um certo pessimismo e personagens memoráveis, capaz de se comunicar com diversos públicos, vender bem, zerar filas de ingressos e proporcionar fenômenos de devoção, principalmente no Brasil e entre as mulheres – são inúmeras as histórias pitorescas de sua passagem na Flip de 2011. Um sujeito popular, pela primeira vez em Curitiba.

Máquinas de fazer sentir

A estreia de Mãe-poeta remete a 1999. Como romancista, seu primeiro livro é nosso reino, de 2004. Mas é com o remorso de baltazar serapião que ele se inscreve em uma nova escala. Prêmio Literário José Saramago de 2007 – o bardo português dizia que Mãe o fazia se sentir diante de um novo parto da língua portuguesa–, a obra conta a trajetória de um homem simples, atormentado de ciúmes pela esposa, aos braços de um mundo arcaico.

Opressora, terrível e trágica, a natureza pré-humana de Baltazar, firmada por misticismos e crueldades, catalisa uma das páginas mais emocionantes da literatura universal – o que poderia até soar como despautério e excesso, mas não é, acredite. [E há uma vaca sensitiva.]

Em seguida, temos o não menos grandioso A Máquina de Fazer Espanhóis, de 2010, Prêmio Portugal Telecom de Melhor Livro do Ano. Aqui, ele se debruça, em tons autobiográficos, na vida de um senhor internado em um asilo após a morte de sua esposa. De um Esteves Sem Metafísica a uma amante de Cubillas, é tudo, como se diz no interior, de mastigar o coração. "A morte é como mesas servidas a convidados nenhuns". Se não bastasse, há um mergulho na complexa identidade portuguesa.

Após o encantador e engenhoso livro infantil O Rosto, é a vez do monumental O Filho de Mil Homens, de 2011, a história de um pescador que, aos quarenta anos, percebe que não tem filhos, assim como o Mãe-solteirão, por quem suspiram muitas mulheres tropicais. De órfãos a transexuais, temos um oceano afetivo de muita delicadeza, palavras orbitando o que temos de sonho e de tristeza – este barco de contradições a que chamamos de existência.

Dramas afetivos

15h45, 16 de julho. A Gazeta do Povo noticiava que estavam ao fim os ingressos para a palestra de Mãe na Capela Santa Maria. Foi o que bastou. Em menos de hora, acabaram os últimos 150 tíquetes (gratuitos), gerando ondas de comoção nas timelines da capital.

"Fiquei arrasada. Eu me programei o dia todo. Quando cheguei na Capela, não tinha mais", conta a escritora manauara Priscila Lira, que faz Mestrado em Estudos Literários na Universidade Federal do Paraná (UFPR). O português foi até estopim de uma crise conjugal. Priscila diz que recentemente perguntou ao noivo como ele reagiria se Mãe e ela um dia "ficassem". Resultado: a maior discussão da história do relacionamento. "Quase rolou separação".

A sensação de frustração também atingiu a bibliotecária sem-ingresso Jacqueline Carteri, de Araucária. "Não sabia que tanta gente gostava dele". Ela tem todos os livros do autor publicados no Brasil. Quando soube de uma amiga a visitar Portugal, forçou-a a comprar a edição local de A Desumanização. "Como uso cadeira de rodas, pode ser que consiga um lugar na hora", completa, otimista.

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