
Basta o convite, de um shopping center, para a Livraria Cultura abrir uma loja em Curitiba. Quem afirma é Pedro Herz, 69 anos, o diretor-presidente da rede que hoje tem nove lojas espalhadas pelo país. A maior e mais conhecida é a que funciona no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo (SP). Aqueles mais de quatro mil metros quadrados são apontados por muitos leitores, e apreciadores de livros, como uma provável versão do que pode ser o paraíso na Terra.Questionado a respeito de quais seriam os diferenciais da Cultura, Herz titubeia. Diz, em um primeiro momento, que não sabe apontar quais os motivos que fazem das lojas do grupo praticamente um sinônimo de excelência no que diz respeito a livrarias. Mas, entre uma e outra frase da entrevista, realizada por telefone, abre o jogo. "Somente leitores trabalham como vendedores na Cultura", conta. Herz ainda informa que alguns escritores também trabalham no atendimento ao cliente, fato que faz toda a diferença.Toda noite, pelo menos dois autores autografam as suas obras na loja da Avenida Paulista. Há uma disputa acirrada para lançar um livro naquele espaço. Não é apenas o ambiente, tão inebriante como bem iluminado, que desperta o interesse de boa parte dos autores brasileiros. É possível chegar lá caminhando, de ônibus, de metrô, de bicicleta. Depois, quem circula pela suntuosa loja, que abriga até teatro, tem a oportunidade de visualizar e adquirir o acervo completo de três selos: da Companhia das Letras, do Instituto Moreira Salles e da Record. "É a única loja do Brasil a comercializar todo catálogo das três editoras", observa.
Mas Herz faz um recuo no tempo. Ele lembra que foi a sua (já falecida) mãe quem plantou as sementes dessa bem-sucedida empresa. Em 1947, em pleno pós-guerra, Eva Herz (que dá nome ao teatro instalado no espaço) pensava em como completar o orçamento da família. A descendente de alemães percebeu que seria viável alugar livros. Abriu uma biblioteca circulante e, de empréstimo em empréstimo, alguns associados expressaram o desejo de comprar livros para presentear amigos, familiares e amores. A biblioteca se tornou uma "estante", inicialmente na Rua Augusta. O negócio prosperou e, em 1969, foi inaugurada a loja na Avenida Paulista.
Herz não acredita em determinadas profecias. É um descrente em relação a profetas que anunciam a eventual e futura extinção do livro impresso. "Se o livro de papel está aí desde Gutenberg, no século 15, é sinal de que se trata de uma excelente e insubstituível invenção do ser humano, que vai permanecer", afirma, com voz firme e não pouca convicção.
No momento, o empresário lê Céu de Origamis, o mais recente romance de Luiz Alfredo Garcia-Roza. Entre uma sessão de leitura e outra pausa, ele pensa a respeito da tecnologia. Herz acredita que o livro digital pode vingar no Brasil, mas só daqui a duas décadas. No final de março, a Cultura vai disponibilizar 150 mil títulos digitais, poucos em português. Mas o grupo, ressalta o diretor-presidente, não vai comercializar aparelhos para a leitura digital, apenas o conteúdo.
A loja virtual responde pelo segundo faturamento da rede, atrás apenas da unidade física da Avenida Paulista. Leitores de todo o país, muitos do Paraná, compram pela internet. Herz diz não ter dados sobre o comércio virtual, mas informa que 51% dos clientes são mulheres. Nas lojas "reais", o público consumidor é formado, em sua maioria, por pessoas de 25 a 40 anos. Sobre o que faz um livro vender, e acontecer, ele prefere não arriscar comentários. Se uma obra aparece em uma novela, ou em programa de televisão, às vezes a procura aumenta. Mas, pondera Herz, há o imponderável e os fatores misteriosos que podem fazer de um título, aparentemente comum, um fenômeno editorial.
Herz tem poucas certezas e uma dessas convicções é a de que uma pessoa aprende a ler, e se torna leitora, pela influência. Os seus dois filhos, Sérgio e Fábio, hoje com, respectivamente, 39 e 38 anos, se tornaram leitores porque observavam ele, o pai, com livros nas mãos. "Eles até pegavam os livros de ponta cabeça, para me imitar manuseando livros", conta. Se fosse, o caso, de fazer uma campanha para fomentar a leitura, ele já tem um slogan: "Se você, adulto, não lê, como quer que os seus filhos leiam?".Mas ele não pretende encampar qualquer campanha neste momento. Herz articula o lançamento de três novas lojas: em Salvador, Fortaleza e Brasília, cidade que já tem uma unidade Cultura. Informado de que há um novo shopping center em construção em Curitiba, o Pátio Batel, Herz diz o seguinte: "Nossa prioridade é instalar lojas em shoppings centers. Se houver uma proposta interessante, vamos analisar o mercado. Neste momento, estamos sem convite. Tudo está em aberto."




