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Música

Livro aborda obra de Bowie nos anos 1970

Bowie em 2002: última década foi marcada por reclusão | Reuters
Bowie em 2002: última década foi marcada por reclusão (Foto: Reuters)

Agora, pouco mais de um ano depois de retornar à cena com um disco de músicas inéditas que encerrou dez anos de silêncio e reclusão, David Bowie lança sua primeira coletânea "definitiva": Nothing Has Changed. Nesse contexto, um guia sobre sua obra parece salutar. Afinal, uma compilação parece ser incapaz de sintetizar uma obra tão eclética e complexa como a do músico britânico.

Coincidentemente, é isso que faz a recém-lançada edição brasileira do livro The Man Who Sold The World (2011), de Peter Doggett — o mesmo autor do interessantíssimo A Batalha Pela Alma dos Beatles (2012).

Também lançado pela editora curitibana Nossa Cultura, com o título O Homem Que Vendeu O Mundo: David Bowie e os Anos 70, o livro percorre a obra de Bowie canção a canção — do hit "Space Oddity" (1969) a "Because You’re Wrong", faixa do LP Scary Monsters (1980), que encerra a fase mais criativa do artista.

Enriquecido por textos sobre os discos de Bowie lançados no período e por ensaios sobre temas importantes relacionados ao trabalho do músico (confira alguns ao lado) , o livro une uma saborosa leitura sociológica a investigações biográficas e exames detalhados das canções, incluindo análise semântica das harmonias, melodias, timbres e interpretação.

Doggett estabelece diálogos com referências culturais de Bowie e aponta influências claras (ou conjeturadas ) em áreas como a literatura, cinema e filosofia com uma fluência fascinante.

Embora se apresente com um formato a princípio fragmentário, o texto se desenvolve com uma continuidade que permite entender como cada nova ideia de Bowie se impregnava no trabalho do músico e tomava a forma de cada uma de suas identidades.

Esse relato é fundamental para conciliar as transformações rápidas da obra de Bowie com sua trajetória pessoal — não à toa, cercada de mistérios e sintetizada pela alcunha de "camaleão" frequentemente aplicada ao artista.

Doggett mostra o fluxo inquieto de experimentos artísticos e ideias que criaram a sucessão de identidades e conceitos de Bowie, com especial atenção a Ziggy Stardust — o famoso extraterrestre andrógino utilizado pelo artista para ironizar a máquina de estrelas do rock. Bowie, analisa Doggett, conseguia não apenas captar o espírito de sua época; ele se tornava um de seus guias.

Sem avançar pelos anos 1980, período em que a obra de Bowie foi marcada pela inércia criativa e pela ausência de sua essência iconoclasta, Doggett ainda analisa o papel do artista nos dias de hoje — embora não alcance o lançamento de The Next Day, no ano passado. "Quando o mundo se nega a permitir que a pessoa mude, e o corpo diz à pessoa que pare de trabalhar, é mais dignificante permanecer calado do que lutar contra o inevitável", arriscou Doggett, sobre a falta de capacidade do artista de influenciar a cultura depois dos anos 1980, e sua consequente retração.

Em se tratando de David Bowie, sempre há mais capítulos a escrever.

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