
Em uma carta escrita do porto de Havre, na França, no dia 7 de setembro de 1964, Vinicius de Moraes, que era diplomata no país europeu, confidenciou ao amigo Tom Jobim toda a tristeza de passar a "data da pátria" sozinho, esperando o barco que o levaria de volta ao Brasil. No fim do texto, disse a Tom que escreveria também para casa, pedindo dois menus diferentes para sua chegada, que incluía pratos como tutuzinho com torresmo e doce de coco.
Muitas das memórias gastronômicas do poeta, criado a pudins e lombinhos, estão reunidas no livro Pois Sou um Bom Cozinheiro, lançado recentemente pela Companhia das Letras. A obra conta o interesse do artista pela comida, e traz várias receitas da família Moraes.
Com prefácio da irmã de Vinicius, Laetitia de Moraes, o livro é dividido em três partes: a primeira são receitas de família, como a "fantástica carne de panela da vovó Neném" (uma peça de lagarto assado). Na segunda, as organizadoras Daniela Narciso e Edith Gonçalves trouxeram pratos de restaurantes que ele frequentava, e outras iguarias que aprendeu a cozinhar em seus anos fora do Brasil.
Na terceira e última, Daniela chamou chefs para interpretar receitas que ele cita em poemas. Uma delas é a "galinha com uma rica, e gostosa, farofinha", que integra o poema "Para Viver um Grande Amor", e foi preparada por Claude Troisgros. Alex Atala criou um prato para "Receita de Mulher". "Ele não criou só uma receita gostosa, mas bastante complexa, como as mulheres", diz Daniela, que é chef de cozinha e responsável por projetos como o "Chefs na Rua", na Virada Cultural de São Paulo.
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Foram dois anos de pesquisa para reunir o material um apenas para testes, adaptações e fotografias das receitas (a cargo de Luna Garcia). O envolvimento da chef com o universo gastronômico de Vinicius a levou a concluir: ele levou fama por gostar de beber, mas gostava ainda mais de comer.
Daniela sugere um cardápio sem erro para Vinicius: pastéis de carne de entrada, polvilhados com açúcar (ele adorava doces), franguinho com farofa como prato principal e papo de anjo de sobremesa. Na mesa, jamais podia faltar molho de pimenta. "Ele dizia que a pimenta era a única certeza que dava a ele de estar vivo." GGGGG



