
Uma das principais revelações do cinema francês desta década, o ator Louis Garrel, de 25 anos protagonista de A Fronteira da Alvorada, filme dirigido por seu pai, Philippe, que está em cartaz no Cineplex Batel , já se infiltrou nas barricadas do Maio de 68 em dois filmes, andou associando o governo Sarkozy a uma "psicose coletiva" e, em entrevistas, não se acanha em citar como referências autores como Anton Tchecov e Botho Strauss.
Mas não foram engajamento político nem virtuosismo intelectual que fizeram sua fama. Após estrear no cinema em 1989 pelas mãos de seu pai em Les Baisers de Secours, Garrel ficou conhecido por Os Sonhadores (2003), de Bernardo Bertolucci, como um cinéfilo hedonista disposto a jogar, ao lado da irmã, com a sexualidade de um americano. Não faltaram nudez e sexo.
O despudor ecoou em Ma Mère ("Minha Mãe", de 2004), seu trabalho seguinte, em que interpretava um jovem atraído pela mãe. Nova dose de sequências tórridas, e estava criado um sex symbol: "Tenho uma relação particular com o cinema: gosto de ser erotizado por um filme. Não tenho amarras artísticas. Fico feliz em vir participar dessa erotização. É estimulante ser excitado por um filme, pelos objetos de desejo de atrizes e atores", disse em entrevista, por telefone, de Paris.
A partir do François de Amantes Constantes (2005), Louis Garrel se especializou em bon vivants galanteadores em quem, vez por outra, o amor dá o troco vide o próprio Amantes... e Canções de Amor (2007). A galeria de tipos eternamente à cata de novas paixões lhe rendeu comparações ao Antoine Doinel dos filmes de François Truffaut como Beijos Proibidos (1968).
"Sou um aficionado por Jean-Pierre Léaud (intérprete de Doinel). Se puder dar às pessoas a gana de viver a vida como uma aventura que Doinel me deu, ficarei feliz", diz o ator, que já participou de 14 longas-metragens e dirigiu um curta, Mes Copains ("Meus Camaradas").
Em A Fronteira da Alvorada, Garrel encarna outro François, fotógrafo que se envolve com uma atriz casada. Quando o marido dela volta de viagem, a relação arrefece, e a mulher some para logo rondar os pensamentos da cara-metade, que tenta virar a página pela via ortodoxa: casamento e paternidade.
"(O personagem) É um hiper-sensível, como eu. Para apreciar este filme, pelo que percebi, é preciso ter essa sensibilidade de ouro", afirma. "Acho meu pai (diretor do filme) um gênio. Ele acessa o cinema a um só tempo como pintor e poeta. É inspirador."
A "mirada literária" do diretor Christophe Honoré sobre o cinema também lhe agrada.
Eles acabam de concluir o quarto trabalho juntos, A Bela Junie. E fizeram também Em Paris, em exibição no Cine Luz. Dos dez mais recentes filmes do ator, só três não foram dirigidos pelo pai ou por Honoré. O que Garrel pensa dos outros realizadores?
"Como todos na França estão um pouco entediados, acho que o cinema reflete isso. Neste momento, ele é encarado como entretenimento, o mote é divertir. Mas não é por ser comercial que um filme vai ser ruim. É preciso que se sinta uma coisa real (...) para além de a história ser boa ou ruim", diz.
Bem menos tolerante ele é com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, mesmo sendo sua namorada (a atriz Valeria Bruni Tedeschi) irmã da primeira-dama: "Acho perverso da parte dele se servir do problema da imigração para chegar ao poder. É eterno esse desejo de ver alhures, de se deslocar. Mas ele encara isso como um problema para o qual haveria uma solução: pôr para fora quem vem comer o pão dos outros".
Longe de casa, Garrel aponta Wes Anderson (Viagem a Darjeeling) e Judd Apatow (Ligeiramente Grávidos) como diretores com quem trabalharia. Mas o predileto é James Gray (Os Donos da Noite).
Nem a exposição de sua intimidade, que poderia vir a reboque de uma carreira nos EUA, o desanima: "Se fosse para trabalhar com Gray, não ligaria em falar quanto calço", brinca.



