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DVD

Luz e sombra no francês A Bela Junie

Filme de Christophe Honoré mergulha no microcosmo de escola de ensino médio para falar sobre amor, solidão e dor

O cinema de Christophe Honoré pode ser classificado, de forma equivocada, como retrô. Ou nostálgico. Quem assistiu com atenção a Em Paris e Canções de Amor, seus longas mais conhecidos no Brasil, percebe a identificação do diretor com a Nouvelle Vague, influência presente nos cortes secos, nos diálogos de coloquialismo transbordante e travados no meio da rua, no uso da música como elemento essencial à narrativa, mas, sobretudo, em dois aspectos bem específicos. Um temático: a discussão do amor, assunto onipresente nos filmes. Outro industrial – Honoré vai na contramão da produção francesa que busca padrões holly­­woo­dianos de produção, pregando uma estratégia de guerrilha, com baixos orçamentos, elenco e equipe técnica formados por amigos.

Erra, no entanto, quem vê a filmografia de Honoré como mero exercício de saudosismo. Em seu mais recente longa, A Bela Junie, que acaba de ser lançado em DVD no Brasil, é clara a influência do cinema feito na França entre os anos 50 e 60, mas essas referências vão além do maneirismo puro e simples. Sobretudo porque o cineasta, também roteirista, não apenas se interessa por seus personagens, mas os contrói de forma complexa. Nunca são bonequinhos a serviço de uma proposta estética. Eles existem. Assim como seus dramas.

Em A Bela Junie, Louis Garrel (de Os Sonhadores), ator essencial ao cinema de Honoré, é Nemours, um professor de italiano jovem, charmoso e carismático. Assim como todos os personagens defendidos pelo rapaz em suas participações anteriores em projetos do diretor (e de outros cineastas, também). Espécie de Jean-Paul Belmondo ou Alain Delon da nova geração, Garrel é um daqueles astros cuja personalidade e traços físicos são tão marcantes, exuberantes mesmo, que seus papéis acabam se moldando a ele e sua persona – e não o contrário.

No filme, Garrel tem casos amorosos com alunas e professoras, mas sem grande empenho afetivo, até que surge na escola a personagem que dá título à trama, vivida pela talentosa Léa Seydoux. Ela é bela, atraente e guarda um certo mistério que a torna um pouco inacessível. Essa combinação a torna irresistível para Nemours que tomba apaixonado como um colegial da idade de seus alunos.

Junie, que parece movida por uma dor jamais revelada, acaba se envolvendo também com Otto (o ótimo Grégoire Leprince-Ringuet, também no elenco de Canções de Amor). Ele é tímido e introspectivo, um pouco como ela, e vê no relacionamento a possibilidade de uma espécie de salvação. Mas ela é sombra, não luz.

Honoré, que ama falar de amor e família, consolida mais um tema em sua obra: a juventude. Ele mergulha no microcosmo de uma escola de ensino médio, embalada por melancólicas canções do britânico (e suicida) Nick Drake, algo anacrônicas e ao mesmo tempo perfeitas para estabelecer a atmosfera trágica que se desenha na história muito aos poucos, sem alarde. Talvez por isso seja tão devastador no fim das contas. Mas arrebata. GGGG

Serviço

A Bela Junie (La Belle Personne. França, 2009). Direção de Christophe Honoré. Com Louis Garrel, Léa Seydoux e Grégoire Leprince-Ringuet. Drama. Imovision. 90 min. Disponível para locação. Classificação indicativa: 16 anos.

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