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Opinião

Macbeth na corda bamba

Zeca Cenovicz é um dos narradores | Divulgação
Zeca Cenovicz é um dos narradores (Foto: Divulgação)

Atualizar Shakespeare é sempre um risco – o de reduzir a fábula reveladora da alma humana a uma situação banal. O diretor Rafael Camargo anda na corda bamba entre esses mundos em Dona Macbeth, em cartaz no Teatro Experimental Universitário até 5 de maio.

O cenário, os figurinos e a movimentação em cena deixam claro que se está diante de uma adaptação livre. Uma espada pende do teto sobre o microfone que serve de trono – que, na tragédia Macbeth, é primeiro o desejo e depois o algoz de um casal escocês.

Os quatro atores (Simone Magalhães, Eliane Campelli, Zeca Cenovicz e Renato Sbardelotto) vestem roupas parecidas, sem assumir protagonismos. Diz muito a primeira cena, em que eles se enfileiram para assumir o microfone – mas, ao aproximarem-se, o evitam sucessivamente.

Quando falam, funcionam como narradores de contos que poderiam estar nas crônicas dos jornais – ou na seção policial.

Seus relatos são antecedidos por predições como as das três bruxas de Shakespeare. Bastante simbólicas, trazem a mão espalmada sobre a cabeça, simulando coroas.

O que os narradores contam dispensa símbolos e vai direto ao cerne da vida contemporânea: a televisão de plasma que a mulher vaidosa insiste até o marido comprar; a mãe chefe de família que encontra o destino na forma de uma bala perdida. Há um quê de Rubem Fonseca nos textos de Rafael costurados a essa adaptação de Macbeth, e é aqui que o fantasma da banalidade arrisca puxar a obra para baixo.

Entre os pontos altos da peça estão as caretas de Simone, intercaladas entre momentos de inação proposital. Outro bom uso dos recursos cênicos está na iluminação (de Daniele Regis), que contribui para a tensão proposta. O cômico conto que traz um ganhador de loteria, por outro lado, distende a aura de tragédia e ajuda o espectador a sair do teatro com a alma um pouco mais leve.

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