
Hoje tem sessão dupla com filmes do diretor curitibano Luciano Coelho na Cinemateca. E quem ainda não conhece seu trabalho vai ficar intrigado com os curtas-metragens inéditos Uns Braços e Cortes, cujas propostas estéticas são completamente diferentes. Ambas, no entanto, são coerentes com o trabalho que o cineasta vem realizando ao longo de sua carreira.
A ficção Uns Braços toma como inspiração o conto homônimo de Machado de Assis, apresentado a Coelho pela atriz Janja, que, no filme, vive o papel feminino principal, a recatada dona de casa Severina. Na trama, ela e o marido, Borges (Lori Santos) recebem como hóspede Inácio (Vitor Lacerda), um adolescente do interior que se muda para uma cidade maior para trabalhar.
O rapaz, bastante tímido e introspectivo, acaba se apaixonando por sua anfitriã, uma mulher carente que não recebe a devida atenção do marido, um sujeito falastrão que jamais percebe o sutil clima de desejo que se estabelece entre Inácio e Severina.
Na adaptação, escrita pelo diretor em parceria com a roteirista Fabíola Melo, a ação é transposta do Rio de Janeiro da segunda metade do século 19 para o Paraná dos anos 1950. Coelho explicou, em entrevista à Gazeta do Povo, que não poderia trazer a história para o dias atuais, já que a trama lida com um ambiente regido pela forte repressão sexual: o desejo do garoto é despertado pela visão dos braços descobertos da mulher de Borges, que, aos poucos, também lhe retribui o afeto.
Com cenas externas rodadas no município da Lapa, na região metropolitana de Curitiba, Uns Braços conta com cuidadosa direção de arte de Jô Marçal, figurinos de Tricia Almeida e bela fotografia do alemão Hans Stempel, com quem Coelho já trabalhou outras vezes.
Barbearia
Também rodado em 2012, Cortes pertence a uma outra vertente na obra do diretor: a do cinema de não ficção. Ao longo da última década, Coelho, em parceria com o também cineasta e profissional de teatro Marcelo Munhoz, estiveram à frente do hoje extinto projeto Olho Vivo, centro de formação e pesquisa em audiovisual, voltado sobretudo à produção de documentários.
Cortes foi filmado em barbearias e salões de beleza de bairros de Curitiba. Segundo o realizador, a proposta inicial era a de focar nas conversas entre barbeiros e cabeleireiros e seus clientes, mas, à medida em que as gravações progrediram, outro aspecto chamou a atenção de Coelho. Ele ficou impressionado com a relação das pessoas com o espelho, a preocupação deles com a imagem pessoal, temas que acabaram ganhando protagonismo no curta.



