Enfim chega às telas um filme de terror e suspense, no mínimo, inédito. Trata-se de "A Chave Mestra", um dos poucos títulos recentes do gênero cujo roteiro não é inspirado em um hit do passado (como "O Massacre da Serra Elétrica", "A Casa de Cera" e "Horror em Amityville") ou sucesso do mercado asiático ("O Chamado", "O Grito", "Água Negra"). Clichês não faltam no longa do diretor Iain Softley (de K-Pax), mas a trama traz boas surpresas para o espectador desestimulado por tanta repetição.
"A Chave Mestra" chama a atenção, logo de cara, pela temática diferenciada. Aqui, o mote é a feitiçaria, mais especificamente o hudu variação "do mal" da religião vodu. O cenário da história é a região da cidade de Nova Orleans, que também foi palco do cultuado "Coração Satânico", de 1987. Marcado pela mistura de raças, credos e culturas, o lugar é conhecido por sua vocação musical e forte aura de misticismo.
A jovem Caroline Ellis (Kate Hudson, filha da atriz Goldie Hawn e estrela de Como Perder um Homem em Dez Dias) trabalha como enfermeira em um hospital da cidade. Ela sente uma culpa imensa por não ter cuidado do pai, que morreu doente enquanto a filha viajava seguindo grupos de rock pelo país. Após perder um de seus pacientes, Caroline resolve responder a um anúncio de jornal à procura de uma acompanhante para um idoso em estado terminal. A partir daí, a moça se envolve em uma trama complexa e diabólica, cujo desfecho surpreendente talvez seja o grande trunfo do roteiro escrito por Ehren Krueger, da versão americana de "O Chamado".
Ao som de muito blues antigo, Caroline vai morar na sinistra mansão do casal Ben e Violet Deveraux interpretado, respectivamente, pelos veteranos John Hurt ("O Homem Elefante") e Gena Rowland ("Gloria"). O marido está inválido e mal consegue gemer, enquanto a mulher se mostra incomodada com a presença da estranha. Quem media a relação entre patrões e empregada é Luke (Peter Sarsgaard, de "Meninos não Choram"), um advogado suspeitíssimo. Como era de se esperar, a enfermeira rapidamente percebe que as aparências enganam no lar dos Deveraux, cujo sótão é repleto de artefatos de hudu. Descobre também que a magia negra só funciona para quem acredita nela e, quando se está profundamente envolvido no assunto, é difícil não acreditar.
De narrativa lenta, e com raros sustos ao longo da projeção, "A Chave Mestra" vale mesmo pelo enredo pouco usual. O que já é o bastante nestes tempos de criatividade em baixa e excesso de refilmagens.



