
A Cosac Naify e o Sesc SP criam uma coleção de livros para adolescentes com a ideia ousada de ensinar os leitores a explorar o espaço urbano e a se relacionar com ele. O nome da série, Ópera Urbana, se deve aos libretos que acompanham cada um dos títulos, feitos de informações e serviços relacionados às regiões em que se passam as histórias.
"A coleção nasceu com a dobradinha Surfando na Marquise e Cidade dos Deitados. Pensei na premissa de Balzac, que discutia o gênio da cidade, o espírito do espaço urbano sempre repleto de histórias acontecendo em simultâneo. Assim como os escritores franceses elegeram sua capital como cenário e personagem, pensamos em fazer o mesmo com São Paulo", explica Heloisa, que define os libretos como "almanaques poéticos". Ela escreveu Cidade dos Deitados, ambientado num cemitério e ilustrado por Elizabeth Tognato.
A ideia para a coleção partiu de Heloisa, que a levou à Cosac Naify. Lá, o editor Augusto Massi bancou o projeto e o ampliou, envolvendo o Sesc de São Paulo.
O ilustrador Daniel Kondo, responsável pelas imagens de Surfando na Marquise (o texto é de Paulo Bloise), diz que a participação do Sesc deu à série a qualidade de "ação cidadã".
A proposta inédita no Brasil e no exterior, segundo Kondo consegue aliar literatura (os livros), informação (os libretos), ações (as oficinas que ocorrem somente na capital paulista) e internet (com uma página alimentada por colaboradores que são os leitores do site) para se tornar uma "ferramenta de cidadania".
Fernando Bonassi, autor de Montanha-russa com o ilustrador Jan Limpens, gosta do fato de a série ensinar formas de curtir a cidade. "Se fizermos qualquer pessoa, de qualquer idade, reparar na cidade em que vive e entender-se como parte dela, teremos acertado", diz o escritor.
O libreto que acompanha Av. Paulista, de Carla Caffé, é de fato um guia de prédios importantes na mais célebre via paulistana, fala de cinemas, livrarias e bancos e conta histórias breves. O visual do libreto é arrojado e as fotografias, surpreendentes.
Já a obra de Carla Caffé, o único livro-imagem da série até aqui, é uma obra de arte. Ela vê a Avenida Paulista com uma lente surreal. Os traços e as cores reinterpretam endereços famosos como o Conjunto Nacional e o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e o resultado é semelhante a vê-los pela primeira vez.
"Gosto da ideia de humanização do espaço urbano", diz Heloisa. O livreto de Cidade dos Deitados traz um mapa do Cemitério da Consolação, indicando os mortos ilustres enterrados no local de Monteiro Lobato a Tarsila do Amaral. Além de listar peças teatrais, livros, filmes e poemas que tratam da morte.
Montanha-russa, sobre um pai e um filho que interagem no parque de diversões, tem informações curiosas sobre as maiores montanhas-russas do mundo e do Brasil e os filmes em que elas aparecem. Alguém lembra que, em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Woody Allen diz que viveu a infância numa casa debaixo de uma montanha-russa?
O Parque Ibirapuera pode ser considerado o protagonista de Surfando na Marquise, em que as ilustrações de Daniel Kondo tentam reproduzir, a partir do estêncil, o efeito de imagens pintadas nos muros desgastados da cidade. O livreto é um guia ótimo e inclui um mapa do parque, mais dados sobre os pavilhões e os museus (Afro Brasil e de Arte Moderna). Há uma relação de parques importantes de outras capitais do mundo e até um inventário dos maiores problemas do Ibirapuera entre eles, o lixo espalhado pelo chão.
Os quatro primeiros livros da Ópera Urbana estão ligados a São Paulo, mas o plano é estender a ideia para outras metrópoles do país.




