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Em comum, os personagens de "A Palavra Ausente" (Rocco), livro de contos que o carioca Marcelo Moutinho lança hoje em São Paulo têm aquela dor que é própria do viver, do estar, ou querer estar, só, e do esperar - um gesto, um sinal, um carinho, uma palavra qualquer.

"Eles têm uma tristeza que eu qualificaria como benigna, poética. A beleza das coisas levemente tristes num tempo de ditadura da alegria", comenta Moutinho. São, de fato, histórias bonitas e simples que retratam pessoas comuns que esperam que a vida entre nos eixos depois de uma perda ou que só se acostumam a viver mais ou menos bem, mais ou menos felizes.

É o caso do filho, adulto, que dá banho no pai doente e ausente no conto "Água", que abre o livro. Ou da idosa Dalva em "Interlúdio", que ainda espera, como sempre esperou, o toque do telefone. Em "Jogo-Contra", um garoto reluta em convidar o pai para assistir ao campeonato de futebol do bairro com medo de fracassar. Supera a insegurança, faz o convite, perde a partida e ainda deixa um prejuízo para o pai, que não liga e está feliz só por estar ali. Morte, separação, demissão são alguns dos temas da obra.

Quando Moutinho viu que a questão da ausência marcava tudo o que vinha escrevendo espontaneamente, tratou logo de criar outras histórias para fechar o livro, que lança agora, dez anos depois de sua estreia com "Memória dos Barcos" (7Letras). Isso porque ele prefere, como diz, a ideia de "contos orgânicos", que estão na obra por algum motivo, a uma mera coletânea de textos escritos de forma aleatória.

Nesses dez contos, as relações familiares são quase onipresentes. E todas as histórias se desenrolam em ambientes nem tão ricos nem tão pobres, algo que o autor vem buscando desde seu título anterior "Somos Todos Iguais Nesta Noite" (Rocco) por achar que a classe média baixa seja pouco retratada pela literatura contemporânea. "Me incomoda um pouco essa concentração de histórias no universo da classe média alta ou da favela e periferia, ignorando um mundo que há no meio e a vida dessas pessoas com seus amores, suas dores e epifanias."

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