
Esqueça aquela Marina que você conhece, a musa do rock brasileiro dos anos 1980, autora de hinos como "Uma Noite e Meia", "Fullgás", "Pra Começar", "À Francesa" e "Eu Te Amo Você", entre tantos outros. Ou melhor, guarde-a na memória e nos registros (físicos ou digitais) da sua obra, que é definitiva na música pop brasileira.
Porque a Marina Lima de 2011 (ou @marinalimax, como aparece no Twitter), que fez 56 anos ontem e divulga o álbum Clímax, o 19.º da sua carreira e primeiro de inéditas em cinco anos , olha para a frente. Não que ela renegue ou se envergonhe do passado, afinal boa parte daqueles hits continua no repertório do novo show. Ela apenas se recusa a viver de nostalgia ou a repetir a "fórmula" do sucesso, quebrando a cabeça atrás da nova "Uma Noite e Meia". Para traçar um paralelo com os colegas de geração, entre o caminho escolhido por Lulu Santos e Paralamas do Sucesso e o trilhado por Biquíni Cavadão e Byafra, ela seguiu o primeiro.
Mesmo porque, como Marina disse por telefone à Gazeta do Povo, há tempos ela abriu mão de ser uma popstar. "A música é a minha expressão, mais do que ser entertainer. Eu gosto de compor, de tentar fazer as coisas bem", sublinha. "Também não tenho a preocupação de ser moderna, só gosto muito dos dias de hoje. Para mim não tem essa coisa de no meu tempo, este é o meu tempo. Eu sou muito curiosa, estou sempre atenta aos sons e aos ruídos do mundo. Não sou cristalizada em uma época."
De fato, no novo álbum (veja resenha no quadro ao lado) ela reforça o flerte com a música eletrônica, aproveita todos os recursos tecnológicos disponíveis e ainda se associa com artistas de diferentes períodos o seu contemporâneo Edgard Scandurra, representantes da geração 90 como Samuel Rosa e Adriana Calcanhotto, e até as "meninas" Vanessa da Matta e Karina Buhr. Isso além de cantar, tocar diversos instrumentos (guitarra, baixo, violão, órgão, teclado, programação e pads) e de ter composto praticamente todas as faixas (a única exceção é "Call Me", assinada por Tony Hatch).
Clímax também representa uma tentativa de "virar a página" dos desafios enfrentados pela artista nos últimos anos, como a depressão, a perda de voz e, mais recentemente, a morte de um dos irmãos e da mãe, seguida da mudança do Rio para São Paulo. "É um apanhado do que eu venho fazendo nos últimos quatro anos, tanto musicalmente como dos lugares, situações e das pessoas com quem convivi. Foi muito esclarecedor", resume. "Mas o saldo é positivo. Hoje eu tenho uma outra maneira de ver a morte: ela não é essa coisa pesada que todos imaginam. Sinceramente, eu acho que as pessoas se vão porque já estão mais adiantadas." Ou seja, Marina Lima segue à risca o título da quarta faixa do CD: "Keep Walkin" ("Continue andando", na tradução para o português). E sem prestar atenção no retrovisor.



