O dramaturgo Mário Bortolotto, de 47 anos, está consciente e com quadro clínico estável, já sem sedativos, de acordo com boletim médico divulgado na manhã desta terça-feira (8) pela Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo. De acordo com a nota, ele "permanece sob efeito de analgésicos e respira com suporte de aparelhos".
Bortolotto foi hospitalizado na madrugada do último sábado (5), após ser baleado em assalto ao Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt. O dramaturgo foi atingido no tórax, pescoço e ombro e passou por cirurgia para a retirada das balas. Ele permanece internado na UTI.
O crime aconteceu por volta 5h50, quando quatro homens armados invadiram o bar do espaço cultural. Segundo testemunhas, Bortolotto enfrentou um dos bandidos e acabou sendo baleado.
O ilustrador Carlos Carcarah, de 30 anos, também foi ferido pelos disparos e recebeu alta nesta segunda-feira (7). Assim que deixou o hospital, Carcarah falou ao G1 sobre o ocorrido. De acordo com o artista, Bortolotto demorou um pouco mais para perceber que tratava-se de um assalto.
"Ele disse: Você vai atirar? Então atira!. E acertou o cara. Eles se atracaram, e nessa hora todo mundo já estava abaixado, no chão. O Mário foi empurrando ele para fora, e acabou caindo em cima dele. Nessa hora eu o chutei, e ele atirou em mim", lembra.
O circuito interno de câmeras do Espaço Parlapatões filmou a ação da quadrilha. A polícia ainda investiga o crime e nenhum dos bandidos foi preso.
No domingo (6), atores do grupo Parlapatões fizeram um ato público em homenagem à Bortolotto e contra a violência. O público chegou e ficou do lado de fora do teatro para protestar. Atores e amigos do dramaturgo leram trechos de suas obras e o Espaço Parlapatões, na região central, ficou pequeno.
Espaço Parlapatões ficará fechado por tempo indeterminado em respeito e consideração ao drama vivido pelo autor de teatro
Trajetória de sucesso no teatro
Nascido em Londrina, no Paraná, Bortolotto é um dos mais respeitados autores da cena teatral brasileira, com cerca de 27 montagens. Com textos modernos, que misturam elementos do rock, dos quadrinhos e do cinema, já foi premiado pelo conjunto de sua obra pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), além de ter recebido o prêmio Shell de Teatro pelo espetáculo "Nossa vida não vale um Chevrolet", em 2008.
Bortolotto também é escritor e tem quatro livros lançados: a coletânea de poesias "Para os inocentes que ficaram em casa" e os romances "Mamãe não voltou do supermercado", "Bagana na chuva" e "Atire no dramaturgo". Este último, lançado em 2006, reúne os textos que ele escreve em seu blog homônimo há 5 anos.
O dramaturgo também costuma se apresentar na noite paulistana com sua banda de rock, a Saco de Ratos Blues, que mistura poesia e canções pouco conhecidas de artistas como Itamar Assumpção e Cazuza.
Atualmente, no Espaço Satyros, na mesma praça Roosevelt, havia peças de Bortolotto em cartaz, como "A lua é minha" e "Brutal".
O dramaturgo também é autor dos espetáculos "O natimorto", adaptação do romance de Lourenço Mutarelli, "A frente fria que traz a chuva" e "Getsêmani".



