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Memória

Mazzaropi centenário

O comediante, produtor e diretor, um dos nomes mais populares na história do cinema brasileiro, viveu em Curitiba quando garoto. Ele completaria 100 anos amanhã se estivesse vivo

O personagem Jeca, o mais célebre na carreira de Mazzaropi, teve origem no livro Urupês, de Monteiro 
Lobato | Instituto Mazzaropi/Divulgação
O personagem Jeca, o mais célebre na carreira de Mazzaropi, teve origem no livro Urupês, de Monteiro Lobato (Foto: Instituto Mazzaropi/Divulgação)
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Amácio tinha 12, 13 anos quando o pai, Bernardo, preocupado com a vontade crescente do garoto de virar artista de circo e cair no mundo, tomou uma decisão radical: enviá-lo para passar uns tempos com o avô paterno, o italiano Amázzio Mazzaropi, de quem herdara o nome e que morava em Curitiba, onde era proprietário de uma loja de tecidos na Rua XV de Novembro, coração da cidade.

>>Vídeo: Paulo Camargo fala sobre Mazzaropi e a importância dele para o cinema brasileiro

Segundo a biografia Sai da Frente!, assinada pela jornalista carioca Marcela Matos e publicada pela editora Desiderata, Amázzio recebeu o neto com entisiasmo e carinho. Queria proporcionar a ele os mimos e o conforto que, em tempos mais difíceis, não havia conseguido oferecer aos filhos. O pré-adolescente, no entanto, não revelou grande talento para o comércio, e mal conseguia diferenciar um tecido do outro.

Em compensação, o guri virou a atração da loja, entretendo os fregueses com suas hilárias imitações. Já famoso, o comediante, que faria nesta segunda-feira, dia 9 de abril, 100 anos, lembraria em uma entrevista sua experiência curitibana nos anos 20: "Eu vendia fazendo pose, imaginando uma câmera. Tinha isso no sangue..."

Embora tenha aprendido um tanto sobre o dia a dia de uma loja, a tentativa de dissuadi-lo de fazer graça e virar artista foi inócua. Passados três meses, Mazzaropi despediu-se das casimiras e das gabardines em Curitiba e voltou para Taubaté, no interior de São Paulo, para encontrar o seu destino.

Independência

Um dos grandes nomes do humor no Brasil, e integrante do seleto grupo de comediantes clássicos do cinema nacional, ao lado de Oscarito, Grande Otelo, Ankito e Renato Aragão, Mazzaropi era jeca só na ficção. "Ele era um homem refinado. Quando o chamaram para fazer teste na Vera Cruz, esperavam que aparecesse um caipira rústico. Foi vestido com um terno bem cortado, lenço de seda", conta a biógrafa Marcela Matos, em entrevista à Gazeta do Povo.

O ano era 1951 (leia cronologia nesta página) e o comediante, já um nome conhecido do rádio e da televisão, estrelou seu primeiro longa-metragem Sai da Frente. Embora já tivesse encarnado um tipo interiorano, e fizesse sucesso no programa O Maior Caipira do Rádio Brasileiro, que estreou no mesmo ano na TV Tupi, seu personagem no filme era urbano, ainda que com traços dos principais papéis vividos pelo comediante, sempre algo ingênuos, mas também espertos e resmungões: Isidoro, dono de um caminhãozinho, cujo apelido é Anastácio. Seu principal amigo é um cão chamado Coronel, interpretado pelo cão Duque, famoso astro da Vera Cruz.

Produtor

O primeiro "encontro" de Mazzaropi com Jeca Tatu, o tipo rural, atrasado e submisso criado por Monteiro Lobato em sua obra Urupês (1918), aconteceu em 1960, quando estrelou o filme que leva o nome do personagem, que passaria a ser sua persona mais popular. Dois anos antes, depois de já ter feito filmes com a Vera Cruz e outros estúdios, o ator havia dado um passo importante, ao criar a Pam Filmes, que passou não só a produzir, mas a lançar e distribuir seus filmes.

"Nesse aspecto, o Mazza­ropi foi um visionário, um empreendedor exemplar. Ele controlava tudo com extremo cuidado. Em 1960, ele começa a dirigir [As Aventuras de Pedro Malasartes] e passa a ter controle total sobre sua carreira, acompanhando a distribuição e a renda de seus filmes, para ter certeza de que o dinheiro chegaria a seu bolso", conta Marcela, lembrando que as fitas chegavam aonde as linhas férreas do país alcançassem, e o comediante, para garantir a circulação de seu catálogo, forçava os exibidores a reprisar títulos mais antigos se quisessem lançar os novos.

"Ele se autofinanciava, procurando fazer um filme por ano, guardando parte da renda acumulada de um para produzir o outro, e também investindo em equipamentos", diz a jornalista, lembrando um período na década de 70 quando os longas estrelados e dirigidos por Mazzaropi, como Jeca Macumbeiro, Jeca e Seu Filho Preto e Jeca contra o Capeta, levavam mais de 3 milhões de espectadores aos cinemas, rivalizando com blockbusters norte-americanos. Quando faleceu, em 1981, de câncer na coluna vertebral, deixou um estúdio moderno, instalado em Taubaté, hoje transformado em museu e hotel.

CULTURA E LAZER | 2:08

O empreeendedor das artes no Brasil viveu em Curitiba por três meses

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