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Rock

“Me sinto mais sério hoje”

Noel Gallagher, compositor dos maiores sucessos do Oasis, que se apresenta em Curitiba no próximo domingo, fala sobre álbum-solo, futebol e inspirações musicais brasileiras

Noel Gallagher: aos 41 anos, músico acha que britpop ficou para trás e que “isso é coisa para jovens” | Divulgação
Noel Gallagher: aos 41 anos, músico acha que britpop ficou para trás e que “isso é coisa para jovens” (Foto: Divulgação)

Às 19h37 da última terça-feira (28), tudo estava pronto no estádio da Universidade Simon Bolívar, em Caracas, na Venezuela. O baixo de Andy Bell estava no ponto. Os pratos da bateria de Chris Sharrock, na altura certa. As guitarras de Noel Gallagher e Gem Archer equalizadas. E o pedestal do microfone, na posição ideal. E foi assim, esboçando tranquilidade depois da passagem de som que antecedeu o show de abertura da turnê latino-americana da banda Oasis, que Noel Gallagher falou, grunhiu e riu no telefone com a reportagem da Gazeta do Povo.

A chegada dos britânicos ao continente coincidiu com o aumento da preocupação em relação à gripe suína. Noel contou em seu blog que, ao desembarcar no aeroporto de Caracas, se assustou ao ver uma multidão de máscaras. "Acho que é para nos preocuparmos sim. Mas, na verdade, estamos meio longe do foco, não é?" O começo da conversa surge frio e o delay provocado pela distância de mais de 5 mil quilômetros não é mais problema.

Noel Thomas David Gallagher veio só à America Latina. Sem família, exceto pelo irmão Liam, cinco anos mais novo (41 contra 36). "É muito longe", diz, repetidamente e cada vez mais alto. A conversa começa a ganhar um tom amigável quando o Brasil entra em pauta. A preconcebida grosseria – cuja fama antecede o músico – dá lugar a uma timidez controlada, mesmo que por telefone. "Você sabe que ano passado tocamos basicamente na Europa. Então, acho que vai ser divertido. O clima aí é bom, as pessoas são legais..."

O Brasil – que os recebe nos dias 7 (Rio de Janeiro), 9 (São Paulo), 10 (Curitiba) e 12 de maio (Porto Alegre) – pode se orgulhar de ter presenciado diversas fases desses irmãos, que misturam egos e talentos quase que indistintamente. Na primeira vez em que o Oasis pisou em terras brasileiras, há 11 anos, a banda estava no auge. Enquanto os Gallagher colhiam os merecidos frutos do álbum Be Here Now (1997), rádios abusavam de hits como "Wonderwall" e "Don’t Look Back in Anger", exauridas faixas de (What’s The Story) Morning Glory? (1995). Já em 2001, no Rock in Rio, as músicas de Standing on the Shoulder of Giants não empolgavam – pelo contrário. O ultimo show por aqui – na cidade de São Paulo, em março de 2006 – trouxe na bagagem Don’t Believe the Truth (2005), o primeiro dos discos que devolveram ao Oasis a condição de banda-referência. O segundo é justamente Dig Out Your Soul (2008), que poderia até ter sido lançado com uma música sobre o amanhecer no Brasil. "Gosto do povo, das cidades e principalmente do nascer do Sol. Acho lindo", diz Noel. E o levem a sério. "Claro que poderia fazer uma música sobre isso. E talvez um dia faça", diz o principal compositor do grupo.

Sobre o estado maduro do Oasis, que deixou "Cigaretes & Alcohol" lá em 1994, sinceridade. "Algumas pessoas dizem mesmo que [esses últimos discos] são melhores e diferentes. Eu não sei. Só acho que me sinto um pouco mais sério hoje. Escrevendo músicas ou fazendo shows."

Noel não se importa, mas o Blur voltou a tocar neste ano. A banda de Graham Coxon era a pior coisa que existia para o Oasis no começo da década de 1990 – e vice-versa. Os grupos protagonizaram o "britpop", não se dão até hoje, mas isso parece assunto encerrado para o calejado Noel. "A cena do rock está OK. E não [resmungos], não acho que o britpop esteja de volta. Isso é coisa para pessoas jovens e eu não sou mais jovem."

O músico dedica boa parte do seu tempo ao futebol. Gallagher é adorador do Manchester City, vê todos os jogos que pode e tem um programa sobre o esporte em uma rádio de Londres. Foi trocando passes que o clima tenso do diálogo anterior se esvaiu.

" O Ronaldo? Não, ele é muito gordo. Se eu tivesse que escolher algum outro jogador brasileiro para o City [já jogam Robinho e Elano], seria o Kaká", diz, dessa vez aos risos.

"Me dá um segundo, um segundo." Depois de instantes, um improvisado perdón e outra pergunta, agora seguida de uma revelação.

"Sim, tenho um álbum-solo e ele já está gravado. Não tenho ideia de quando vai sair", explica, já às pressas. "Pode sair neste ano ou nos próximos cinco anos. Não sei!", diz, deixando perceptível a exclamação final.

Ouvem-se pedidos ao fundo, talvez para que a entrevista se encerre. Mas ainda há tempo para anunciar um arrependimento: deixar Manchester, cidade natal dos Gallagher, para viver em Londres. "Não sei, só sinto isso às vezes. Cara, tenho que ir."

Há uma negociação em desenvolvimento. Com a pressa do entrevistado, as duas últimas perguntas propostas viram uma – que traz a resposta óbvia e um ponto final indiscutível.

"A melhor banda do mundo? Não, não nos achamos. Essa é The Beatles."

Serviço

Oasis. Expotrade Convention Center (Rod. Dep. João Leopoldo Jacomel, 10454 – Centro- Pinhais - PR; Telefone: (41) 3661-4000. Dia 10 de maio, às 19h30. Ingressos: pista a R$ 160, pista VIP a R$ 400. Meia-entrada válida para estudantes, idosos e doadores de sangue com carteira comprobatória. Onde comprar: site www.ticketmaster.com.br; na loja Fnac do ParkShopping Barigüi (R. Pedro Viriato Parigot de Souza, 600, lj. 101), (41) 2141-2000; e no guichê oficial no Shopping Novo Batel (R. Cel. Dulcídio, 517), (41) 3224-4986, aberto diariamente das 12 às 20 horas.

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