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Festival de Curitiba

Memórias de uma vida em família

Criada a partir de um conto húngaro, A Mulher Que Ri trata das relações entre pais e filhos, além de abordar a influência da palavra sobre as lembranças

Eloisa Elena (ao fundo) para Fernando Alves Pinto: “Você prefere uma mãe feliz ou coerente?” | Divulgação
Eloisa Elena (ao fundo) para Fernando Alves Pinto: “Você prefere uma mãe feliz ou coerente?” (Foto: Divulgação)

Escritor de nome complicado, o húngaro Zsigmond Móricz (1879-1942) tinha como tema a pobreza e as pessoas simples que viviam nos campos. O conto "Sete Moedas" é talvez seu texto mais conhecido na Europa e narra a história de uma família – mãe, pai e filho – que vivem as dificuldades impostas pela falta de dinheiro.

O conto serviu de base para a peça teatral A Mulher Que Ri, que tem duas apresentações na Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba, amanhã e quarta-feira.

A atriz Eloisa Elena interpreta a mãe. Foi ela que encontrou o texto de Móricz e, fascinada pela história, decidiu levá-lo aos palcos. A adaptação ficou a cargo de Paulo Santoro, enquanto Yara de Novaes respondeu pela direção.

Embora a ação seja fragmentada – não existe uma narrativa linear –, o público acompanha o drama do filho da família, vivido por Fernando Alves Pinto, ator com uma carreira respeitável no cinema, deslanchada com o papel de Paco em Terra Estrangeira (1996), de Daniela Thomas e Walter Salles.

O rapaz se prepara para sair de casa porque vai estudar em um internato. Se não suporta a influência do pai (Plínio Soares, em papel criado para a peça e inexistente no conto), tem dificuldades de se desvencilhar do elo com a mãe (Eloisa Elena, em atuação elogiada pela crítica paulista).

Com muita dificuldade e a partir de palavras desconexas e frases sem sentido, o jovem tenta olhar para o passado e buscar na memória as lembranças da vida em família. Depois de se debater, ele vai criar uma frase inteligível que será, como explica a página da peça na internet (www.amulherqueri.com.br), o "ponto de partida para sua caminhada em busca do tempo perdido".

O escritor e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva, colunista do Estado de S.Paulo, viu no personagem da mãe "a desesperançada mensagem: alienar-se talvez seja a melhor saída". Ela sofre, mas prefere rir diante das adversidades. A certa altura, pergunta ao filho: "Você prefere uma mãe feliz ou coerente?".

"As pessoas podem enxergar isso como passividade, ou como algo natural e preferível", diz o dramaturgo Paulo Santoro. "Eu tenho a tendência de enxergar essa postura como boa."

Para a adaptação, Santoro foi procurado por Eloisa Elena, com o pedido para que ampliasse o texto. "O conto era uma cena curta, de, digamos, cinco minutos. Então tive que criar todo um contexto e um novo personagem (o do pai)", explica. A montagem ficou com 55 minutos.

Também no Estado de S.Paulo, a crítica teatral Beth Néspoli destacou os "momentos bonitos" da peça, que comparou a um quebra-cabeças. Entre eles, se fala bastante na cena em que a mãe precisa comprar sabão e passa a procurar moedas por toda a casa, envolvendo o filho em uma espécie de brincadeira.

Com idas e vindas – do presente para o passado e de volta ao presente –, A Mulher Que Ri explora as ligações entre língua e memória, como destacou Gabriela Mellão, da revista Bravo!.

Sem ignorar os temas caros a Móricz, Santoro conseguiu ampliar o escopo da história, falando também sobre laços familiares e rituais de passagem.

Serviço

A Mulher Que Ri. Sesc da Esquina (R. Visconde do Rio Branco, 969). (41) 3304-2266. Amanhã e quarta-feira, às 21 horas. R$ 40 e R$ 20.

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