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Tendência

Moda, cópia ou inspiração?

Consultores orientam a indústria de vestuário; para não errar, todo mundo copia

Será que a calça clochard, a bag e a ombreira vão voltar? As mulheres aceitarão as cinturas altas? A estampa floral vai tomar o lugar das geométricas? Voltaremos a usar saiões ao invés das mínis em quantas temporadas? Estas são questões cruciais para as engrenagens da moda. Porque, conforme as tendências vão se consolidando, fabricantes no mundo inteiro – exemplos mais próximos são as confecções do bairro do Bom Retiro, em São Paulo, e do pólo confeccionista de Cianorte (PR) – abastecem de linhas e tecidos as máquinas para colocar essas peças o mais rápido possível no mercado. A moda, essas quatro letrinhas tidas por muito tempo como mera cobertura do corpo, agora é parte fundamental da sociedade de consumo.

Mas como surge uma tendência de moda? A resposta não é tão tangível quanto parece. Poderíamos responder que vem da cabeça dos estilistas, da inspiração das ruas, da imposição da indústria têxtil, do momento histórico... Fato é que a moda segue um movimento espiral, bebe no passado a cada estação. E, a essas referências, somam-se novas formas, novos tecidos, novos aviamentos, enfim, novas interpretações.

As tendências do inverno 2008 começam a ser ventiladas muito antes que se adquira a primeira peça do verão 2007/08. Foi o que mostrou a 30.ª edição do Senac Moda Informação, em São Paulo, na semana passada. O evento acontece duas vezes ao ano, antecipando – para lojistas, confeccionistas e gerentes de compras – o que estará em voga na próxima estação tendo como base a pesquisa de consultores feita em feiras e semanas de moda internacionais.

E é aí que a coisa começa a dar nó. As tendências de fora têm sido sistematicamente absorvidas pela indústria nacional, devido ao calendário: como as estações são díspares (inverno lá, verão aqui, e vice-versa), é quase que automático que o nosso guarda-roupa tenha a "memória" do que foi moda na estação passada nos Estados Unidos, Europa e Ásia.

Mas há vozes dissonantes e, paradoxalmente, o próprio Senac mostrou isso, ao convidar o estilista brasileiro Jum Nakao para fazer a palestra de abertura do evento. O tema: Uma Cópia Inconveniente.

Com 25 anos de carreira, há tempos Nakao tem defendido a criação genuinamente nacional em detrimento da cópia e ao mesmo tempo, questionado o traiçoeiro sistema da moda, no qual grifes são criadas e extintas com a mesma rapidez. "O Brasil não percebe a moda de forma estratégica, há pouco crédito e altíssimas taxas de juros. Nos últimos anos, a variação no preço do vestuário foi de apenas 15%", diz, comparando o país com a China, onde há isenções e descontos para empresas com bom desempenho.

Nakao também chama a atenção para o surto de importação de produtos chineses, dá números e prova que, só no ramo da malharia, as importações chinesas triplicaram nos últimos anos. "Em 2008, de dois produtos consumidos no mundo, um será chinês."

No Brasil, um cenário de dúvidas e incertezas. Para os asiáticos, não só a perspectiva de crescimento qualitativo quanto a constatação: os chineses agora estão aficionados em design de qualidade.

A porta está sempre aberta para a criatividade. Jum Nakao lembra que o design brasileiro tem bons representantes. Cita os irmãos Campana; o case Havaianas (exportadas para o mundo todo); o Fox, primeiro carro desenhado pela subsidiária brasileira da Volkswagem; e um dos modelos Motorola de celular mais vendidos foi desenvolvido por um brasileiro...

Ele próprio é autor de um momento célebre do design nacional. Em 2004, apresentou o desfile-performance A Costura do Invisível, considerado um dos mais belos shows de moda da história. Os vestidos, inspirados no fim do século 19, foram confeccionados em papel vegetal e destruídos pelas modelos ao final do desfile. Uma réplica de um dos modelos está no Museu da Moda, em Paris.

Para o estilista, a moda do país tem que repensar um caminho que consiga construir uma identidade realmente brasileira. "Este modelo que copiamos não nos cai bem. É uma cópia inconveniente", alerta.

Segundo Tatiana Putti, coordenadora de moda do Senac SP, apresentar as tendências para as pessoas que fazem moda no Brasil é proporcionar uma ferramenta a mais de trabalho para o desenvolvimento de suas coleções. "Cada consultor já direciona para o Brasil as apostas com mais chances de emplacar."

Com vocês, o inverno 2008

De volta ao armário, quem curte moda já deve estar curioso para saber quais as tendências do inverno. Assim, "mastigadas", elas ficam mais fáceis de serem absorvidas, certo?

Em resumo, foram assim batizadas: Anos Loucos (anos 20/art déco); Masculino Chic (anos 40/glamour das divas); Mix 70 (anos 70/étnico contemporâneo) e Kaos 2000 (uniforme/high school).

Embarque no túnel do tempo. Os anos 20 do século passado – quando os espartilhos deram lugar à silhueta tubular e às cinturas baixas – estão de volta. A mulher, liberada, agora fuma em público e veste modelos de Coco Chanel e Paul Poiret. As estampas são inspiradas na art déco, geométricos e com listras disformes. Os "anos loucos" são embalados ao som do charleston, do tango, do jazz. E no contraponto da praticidade das formas, o romantismo de libélulas e borboletas.

Um pouco mais para frente, na década de 40, a guerra se reflete na moda. Austeridade e praticidade são as palavras que se refletem no look militar e masculino, como o eternizado pela atriz Marlene Dietrich. Poucas estampas, tons sóbrios e muitas texturas como pie-de-poule. Em contrapartida, um estilo mais sexy remete às misteriosas mulheres do film noir, como Verônica Lake com seu batom vermelho e madeixas onduladas.

Mais uma volta nessa espiral e chegamos ao mix de referência dos anos 70, com as influências das estampas étnicas (orientais e africanas), da geração glam, glitter, disco, punk e gótica. Além do brilho pontuado, há os tecidos metalizados. Os vestidos são em formato trapézio ou baby-doll.

E, finalmente, a última aposta do inverno 2008, os anos 2000 traduzidos no estilo colegial, esportivo, grunge, a busca pela individualidade e pelo original. Os anos 80 ainda reverberam na forma da contraposição de silhuetas, do colorido e do poder de celebridades como Grace Jones, Madonna e Björk.

A jornalista viajou a convite do Senac SP.

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