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Opinião

Montagem faz uma alegoria angustiante

Valenzuela (à dir.), na peça dirigida por Fátima Ortiz | Eli Firmeza/Divulgação
Valenzuela (à dir.), na peça dirigida por Fátima Ortiz (Foto: Eli Firmeza/Divulgação)

Não é tarefa fácil dar vida à história do Incrível Menino Preso na Fotografia, do dramaturgo Fernando Bonassi. O texto fala de um garoto de 12 anos tragado por uma máquina fotográfica. Ali, inerte, ele passa a refletir sobre a vida em cativeiro, numa alegoria angustiante do período ditatorial no Brasil da década de 1970.

Adaptar O Incrível... gera três desafios: a) como resolver a questão do personagem que não se mexe; b) como conferir atualidade a um arcabouço memorialista de fortes contornos políticos; e c) como não errar a mão na transposição, pontuada por temas políticos que vibram em altos decibéis.

A peça, dirigida por Fátima Ortiz, acerta em quase todos os quesitos. Desautorizando com eficácia o texto original, ela desdobra o menino em dois e o faz se mexer. Daniel Valenzuela, em uma interpretação consistente, confere intensidade e convoca o espectador à ação. "Muito do que acontece, acontece porque a gente se mexe", diz em certo momento.

Outro mérito é a presença de Troy Rossilho, estreando no palco. Seu violão agregou camadas emocionais à composição corporal de Valenzuela e formou, com a iluminação densa, um tríptico da opressão. E essa contraposição de forças funcionou bem, apesar de uma e outra derrapada no tom panfletário. Se o objetivo era questionar a letargia, a missão foi cumprida.

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