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O cinema perdeu esta terça-feira um dos cineastas mais mordazes e irreverentes de sua história. Robert Altman morreu aos 81 anos de causas ainda não reveladas, em um hospital de Los Angeles. O diretor de clássicos como "M.A.S.H." e "O jogador" marcou sua carreira por derrubar convenções narrativas.

E um de seus maiores orgulhos era nunca ter se curvado a regras da indústria de Hollywood.

"Sou muito feliz pela minha carreira. Nunca tive que dirigir um filme que não havia escolhido. Meu amor pelo cinema me abre portas para o mundo e para a condição humana", disse Altman quando recebeu este ano um Oscar honorário pela sua carreira. Foi o primeiro reconhecimento da Academia de Hollywood depois de cinco indicações à estatueta de melhor diretor.

Apesar de um transplante de coração e um joelho de titânio - que o levava a dizer que pouco sobrava de Robert Altman original -, ele era incansável. Rodou ano passado "A última noite" ("A prairie home companion", atualmente em cartaz no Brasil) e logo depois estava voando até Londres para dirigir a peça de Arthur Miller, "Resurrection blues". Não gostava da idéia de se aposentar. Quando perguntado sobre a hora de parar, costumava dizer: ''Aposentadoria? Você está falando de morte, certo?''.

Mas Altman sabia que sua hora de sair de cena estava chegando. Seu último filme, "A última noite", usa essa sabedoria para lidar com o tema da morte. Ao reconstituir os bastidores de um dos programas de rádio mais populares dos Estados Unidos, dedicado à música country, o diretor mostrou como deveríamos conviver naturalmente com a idéia da morte, sem melancolia, despedidas ou lamentações. E mais uma vez o diretor uniu um elenco de veteranos (Meryl Streep e Tommy Lee Jones) a sua jovens apostas, como foi com Lindsay Lohan desta vez.

Nascido em 20 de fevereiro de 1925, na cidade de Kansas City, nos Estados Unidos, Altman entrou no mundo da música bem pequeno. Aos 20 anos ingressou na Força Aérea Americana e durante a Segunda Guerra Mundial tornou-se co-piloto de B-24. Ao voltar da guerra, aprendeu a fazer documentários e filmes institucionais de treinamento e propaganda militar. A atividade despertou seu interesse para o cinema e ao sair da empresa dirigiu o independente "Os delinqüentes" (1957) e o documentário "The James Dean Story".

Fez muitos trabalhos para a televisão nos anos 60, mas só na década seguinte veio seu grande sucesso. Aclamado pela crítica americana, premiado com a Palma de Ouro em Cannes e indicado a Oscar, "M.A.S.H." (1970) contava uma história sarcástica de uma equipe médica durante a Guerra da Coréia. O filme deu origem a um seriado de TV homônimo que ficou muito tempo no ar.

O diretor usou sua característica irreverente e crítica da sociedade americana nos trabalhos seguintes, como o sucesso "Nashville" (1975), sobre os bastidores de uma campanha política. No entanto, Altman é responsável também por fracassos artísticos e comerciais, como "Popeye" (1980) e "Além da terapia".

Mesmo assim, seu prestígio nunca foi abalado. Altman era visto com uma grife no cinema mundial, o que ele considerava um "fardo". Fez produções que se tornaram clássicos, como "O jogador (1992). A sátira ao mundo dos magnatas hollywoodianos tem um dos mais famosos planos-seqüência da história cinematográfica: a primeira cena com oito minutos de duração acompanha a chegada de um produtor (vivido por Tim Robbins) no seu escritório e todas as movimentações em torno do personagem. Com o filme, Altman foi novamente premiado em Cannes.

No ano seguinte, rodou "Short cuts" e revolucionou com uma narrativa fragmentada. O filme unia atores novatos, como Andy McDowell e Peter Gallagher, com outros em ascensão - como Julianne Moore, Tim Robbins, Robert Downey Jr., Jennifer Jason Leigh e Frances McDormand) e dois mitos: um do cinema (Jack Lemmon) e outro da música (Tom Waits).

Outros sucessos de Altman são o polêmico "Prêt-à-Porter" (1994) e "Assassinato em Gosford Park" (2001). Este último, recebeu seis indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e melhor atriz, tanto para Helen Mirren quanto para Maggie Smith. O longa acabou levando o Oscar de melhor roteiro original e o Globo de Ouro de melhor diretor

Ao todo foi foram mais de 85 filmes na carreira deste diretor, que produziu outros 40 e escreveu os roteiros de cerca de 40 deles.

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