
No início da década de 1980, a cena artística curitibana foi movimentada por eventos coletivos que trouxeram à tona discussões sobre a arte, àquela altura, contemporânea. O convívio com o Grupo Convergência permitiu ao paranaense de Rio Negro Mohamed Ali el Assal (1958-1987) se envolver nas mostras Arte de Bicicleta (1982) e Moto Contínuo (1983), projetando suas obras, em companhia de colegas como Geraldo Leão, Rogério Dias e Rossana Guimarães.
Mohamed já se insinuava no meio artístico desde 1977, mas foi ao participar dessas duas exposições que despontou como um dos principais criadores do período, atento às questões que pairavam sobre as artes visuais brasileiras depois do fim do regime ditatorial. "Ele estava antenado com o que se produzia, o retorno da pintura como linguagem. As décadas de 1960 e 70 foram marcadas por um empenho muito grande de tornar as ações artísticas também políticas. Com a abertura política no final de 1970 e o processo de dissolução da ditadura, não havia mais o engajamento político quase obrigatório, daí a retomada das linguagens: pensar a pintura em relação à pintura e à história da arte", comenta a artista plástica Patricia Stuart.
Patrícia é autora do projeto, incentivado pela Fundação Cultural de Curitiba, que recupera a produção do artista paranaense na exposição Mohamed Enigmagens, aberta hoje, às 19 horas, no Memorial de Curitiba. Os pisos 2 e 3 do prédio vermelho, localizado no Setor Histórico, recebem mais de 40 trabalhos, pertencentes à família do pintor morto em um acidente de moto no primeiro dia do ano de 1987. São desenhos e pinturas produzidos em um curto intervalo, a partir de 1984, quando teria atingido sua maturidade artística.
Foi o ano em que expôs, sozinho, no Bar Ocidente (localizado na Rua Dr. Muricy), desenhos em nanquim lavados. Prenunciavam sua guinada para a pintura, efetivada em 1985, ao ser eleito na categoria Aquisição do 2º Prêmio Pirelli Pintura Jovem. Num primeiro momento, Mohamed transpôs a gestualidade do desenho para a tela, acrescentando, em seguida, massa, cor, volume e sombra para aludir a tridimensionalidade em suas criações.
Lembrado em individuais realizadas em 1988, 1991 e 2004 (esta última, no Museu Metropolitano de Arte MuMa), Mohamed permanecia ausente de publicações, com exceção apenas de um boletim da Casa Romário Martins, onde seus desenhos e pinturas haviam sido reproduzidos em preto-e-branco. Patrícia trabalhou para suprir essa deficiência, lançando, com a exposição atual, um catálogo do artista com uma centena de imagens, que recupera sua produção breve, porém significativa.
Serviço
Exposição e lançamento de catálogo do projeto Mohamed Enigmagens. Memorial de Curitiba Salões Paraná e Brasil (Rua Claudino dos Santos, 79 Setor Histórico), (41) 3321-3328. Abertura, dia 20 de maio às 19 horas. Terça a sexta-feira, das 9 às 12 horas e das 13 às 18 horas; sábados e domingos, das 9 às 15 horas. Até 12 de julho.



