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Cinema

Movidas pela perda

Primeiro longa de Caetano Gotardo, O Que Se Move, em cartaz no Espaço Itaú, reúne três dramas familiares e mapeia o mal-estar do mundo atual

Fernanda Vianna levou prêmio de melhor atriz em Gramado por sua tocante interpretação | Divulgação
Fernanda Vianna levou prêmio de melhor atriz em Gramado por sua tocante interpretação (Foto: Divulgação)

No começo, parece que tudo está fora de lugar. O primeiro plano da mãe professora, muito ostensivo, o sotaque do garoto, estranhamente interiorano, a conversa no parque com a amiga...

Mas é preciso dar um crédito a O Que Se Move. Em cartaz no Espaço Itaú de Cinema, o filme de Caetano Gotardo merece, e é um desses poucos sinais de vida do cinema paulista. Não que tudo esteja de fato ajustado. Mas é preciso, primeiro, observar que lidamos aqui com uma estética que se inspira no cineasta francês Robert Bresson, em que todo rigor do mundo é necessário a um bom resultado.

Em segundo lugar, o filme de Gotardo, tematicamente, pega precisamente o contrapé da mídia sanguinária paulista (que, a rigor, tenta agradar ao espírito de intolerância que se disseminou entre nós).

Faz isso a partir de três histórias: uma delas diz respeito à pedofilia; outra, a um reencontro familiar; a terceira, à morte de um filho pequeno em circunstâncias inesperadas. Sobre as três convém manter certo silêncio: é a surpresa que fará o encanto do filme, é a surpresa que o projetará acima de eventuais imprecisões, é a força de suas elipses que nos arrancará de uma espécie de entorpecimento em que o início tende a projetar o espectador.

Pode-se perguntar por que isso acontece. Em certa medida é porque O Que Se Move busca opor sua linguagem, justamente, à onipresente linguagem midiática, essa que ocupa programas alarmistas de tevê e se propaga pela internet. Daí a necessidade de o espectador dar ao filme esse crédito inicial: desconheço a ordem em que foram filmados os episódios, mas do primeiro ao terceiro é perceptível o maior conforto na definição das distâncias, na escolha (e direção) de atores e mesmo na montagem. Ao mesmo tempo, vale acomodar os olhos a um espetáculo significativo, contemporâneo, que não se acanha diante dos riscos.

Não custa lembrar que o mesmo grupo de realizadores (Filmes do Caixote) já havia criado um filme intrigante, Trabalhar Cansa (2011). De lá para cá, verifica-se uma evolução que indica a consistência do grupo. Ainda se pode esperar mais.

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