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Música

Musa pop do terceiro mundo

O conceito de "popstar do terceiro mundo" foi esquecido desde a morte do jamaicano Bob Marley (1945 – 1981), o primeiro – e talvez o único – artista de um país subdesenvolvido a entrar na galeria dos grandes nomes da música jovem internacional. Mas agora, mais de 20 anos depois da morte do rei do reggae, um novo nome parece ter os atributos necessários para ao menos colocar em evidência o som produzido nos quintais da globalização.

Trata-se da cantora M.I.A., de 27 anos, que fez barulho este ano com seu discurso politizado e uma mistura inédita de estilos. Catapultada à fama por conta do boca-a-boca da internet, ela rodou o mundo até o chegar ao Brasil, onde seu CD de estréia, Arular, foi finalmente lançado. Atração do TIM Festival, evento realizado no Rio de Janeiro e São Paulo no último fim de semana, a moça é a cara da efervescência multicultural dos dias atuais.

Nascida na Inglaterra, Maya Arulprasagam (seu nome de batismo) passou a infância entre a Índia e o Sri Lanka, terra de origem de sua família. Seu pai, hoje um escritor, foi guerrilheiro revolucionário e lutou na guerra civil do país – Arular, por sinal, era o codinome usado por ele durante o conflito.

De volta ao Reino Unido, M.I.A. estudou em uma concorrida escola de artes e ingressou na carreira de fotógrafa e pintora. Chegou a expor seus trabalhos, mas logo percebeu que queria fazer música – principalmente depois de acompanhar, como documentarista, o grupo Elastica e a cantora Peaches. Equipada com teclados e softwares, pediu ajuda a alguns amigos e passou a produzir sem parar.

Suas letras falam, entre outros assuntos, sobre imigração, preconceito, crime, opressão... Mas, por trás da postura "consciente", M.I.A. seduz o ouvinte por conta de faixas extremamente dançantes, calcadas na fusão de gêneros variados – do hip-hop ao banghra (a música moderna indiana), passando por electro, drum ‘n’ bass e dancehall jamaicano. Sem contar a forte influência do funk carioca: "Bucky Done Gun", seu maior sucesso, é inspirado em "Injeção", batidão produzido pelo lendário DJ Marlboro e interpretado pela popozuda boca-suja Dayse Tigrona.

Arular já chama a atenção pela capa, colorida como uma barraca de camelô. A foto da cantora aparece rodeada de bombas, aviões, rifles e tanques de guerra – tudo estilizado e propositalmente desorganizado. No encarte, mais motivos bélicos, além de referências à sociedade de consumo (celulares, garrafas de refrigerante). Essa estética "global" é a porta de entrada para uma grande festa internacional, onde M.I.A. é a mestre de cerimônias e qualquer um dos presentes encontra ecos de sua cultura no som. Nunca o lema "pense e dance" fez tanto sentido. GGGG

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