
A partir de agosto, os estudantes brasileiros começam a versão brasileira do seriado Glee. É isso que poderia levar a crer a entrada em vigor da Lei 11769/08, que torna obrigatório o ensino de conteúdos de música da educação infantil até o ensino médio, em escolas públicas e particulares. A descoberta de talentos, porém, será efeito colateral da democratização do ensino da música, na opinião de especialistas. "O lugar que busca e desenvolve talentos é o conservatório. O objetivo da música na escola é dar acesso a todas as crianças ao conhecimento", opina a coordenadora de extensão da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Renate Weiland.
Será que esse conhecimento está sendo transmitido? Nas escolas onde a educação musical já existe, é grande a diversidade de métodos e a lei dá liberdade para isso. As abordagens mais tradicionais incluem apenas o ensino de instrumentos.
Outras incluem ludicamente elementos da música na grade curricular, como as noções de grave e agudo, escala, ritmo e melodia. É o que Débora Pickle desenvolve na escola infantil Interpares. "Não é aula de música para formar artistas. O ensino da musicalização visa sensibilizar para a linguagem artística", defende.
Se o maternal parece um momento um tanto precoce para tudo isso, há quem defenda o contato com a música desde os primeiros dias de vida do bebê. "Depois, o currículo precisa promover o desenvolvimento musical, com a alfabetização musical por volta dos 6 anos", diz Solange Maranho Gomes, professora da Licenciatura em Música da Faculdade de Artes do Paraná.
Se você é cético quanto aos ganhos trazidos pela música, é bom lembrar que existem estudos científicos sobre o desenvolvimento cognitivo e até de áreas inteiras do cérebro promovido pelo contato com as notas e os acordes. Saber ouvir, aceitar opiniões diferentes das suas e desenvolver o afeto são benefícios trazidos pela música, na opinião de Renate.
É o que presencia na prática a professora de música da escola Atuação, Sarah Peixe. Ela dá aulas de música para crianças de menos de 2 anos até o início da adolescência. Na musicalização dos pequenos, ela passa noções de andamento, notas musicais, o funcionamento da música e como ela é composta. Os maiores já têm contato com instrumentos, teórico e prático, aulas de improviso e composição. "É o que eles mais gostam: soltar a criatividade à vontade. Alunos que em outros momentos não se destacam, de repente se soltam", conta.
Para que o ensino da música siga um critério lógico e crescente, a rede estadual do Paraná criou tabelas com conteúdos divididos por séries. "Em qualquer uma delas, a música pode ser trabalhada", diz Marcelo Cabarrão, coordenador de ensino fundamental da Secretaria de Estado da Educação. "O professor pode trazer uma peça para ser apreciada, depois fazer a contextualização, mostrar quais instrumentos são utilizados, explicar a época em que foi composta... depois, na produção, pode-se improvisar instrumentos musicais e por aí vai."
Para a maior parte dos músicos, o maior benefício da lei é, além da abertura de mercado para profissionais, a democratização do ensino musical. "Só em escolas particulares a música acaba elitizada", opina o músico, compositor e produtor Felipe Ayres.
De quebra, a lei acaba contribuindo para a formação de plateia. "Isso é que é importante: a criança conhecer a história da musica independentemente de gostar daquele estilo ou não", diz Ayres.



