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Noite de Ramones na Pedreira: chuva e delírio. | Antonio Costa/Arquivo Gazeta do Povo
Noite de Ramones na Pedreira: chuva e delírio.| Foto: Antonio Costa/Arquivo Gazeta do Povo

Joey Ramone ergueu seu pedestal como um capitão de um time campeão. 1,2,3,4. Numa noite de temporal, em 12 de novembro de 1994, assim começou o show o único dos Ramones em Curitiba.

Era a quarta passagem da banda pelo Brasil. O show fazia parte da turnê Acid Chaos. Nela, o quarteto então formado por Joey, Johnny, C.J. e Marky divulgava seu trabalho mais recente, o álbum de covers “Acid Eaters”.

O show produzido pela casa noturna Aeroanta teve abertura das bandas de metal Viper, dos recém descobertos Raimundos e do Sepultura no auge de sua popularidade depois dos discos Arise e Chaos A.D.

Na resenha que escreveu sobre o show, publicada na Gazeta do Povo dois dias depois, o então editor do Caderno G, Abonico R. Smith comparou a noite a um “Woodstock curitibano”. Um tanto pela chuva que caiu. Outro pelo teor histórico.

“Nunca mais vi a Pedreira naquelas condições, com tanta chuva e raios. E os Ramones, apesar de estarem no final da carreira, fizeram um show que foi um marco para Curitiba que criava um circuito de shows internacionais, algo que nos anos seguintes, se perdeu”, lembra.

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Até 1994, poucos shows deste tamanho tinham ocorrido na cidade, lembra Herivelto Oliveira, então repórter da Rede Paranaense.

Sua matéria veiculada no extinto Jornal Estadual é um dos poucos registros em imagens conhecidos daquela noite. Herivelto lembra que “se jogou de jaqueta de couro no meio do pogo (espécie de dança violenta do punk rock) e da chuva”.

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“Era uma galera bem alternativa que parecia estar em um parque de diversões. Diferentemente de hoje, o repórter de televisão era uma figura querida. O que eu fiz foi entrar no clima da farra com aquela galera na chuva”, observa.

Chuva de pedras

Mas não foi só chuva que caiu do céu naquela noite. Um dos produtores do show, o empresário Sérgio Apter, lembra que em dado momento houve uma “chuva de garrafas cheia de pedras em todas as direções”. “Cometemos o erro de vender água em garrafa de plástico. Os caras enchiam com a brita que tem no chão da Pedreira e jogavam a esmo”, recorda. “Nunca mais cometemos o mesmo erro.”

O publico daquela noite foi de 28 mil pagantes, segundo Apter. “Deu para pagar todo mundo e sair com algum lucro”, comemora.

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Ele disse que conseguiu produzir aquele e uma série de grandes shows entre 1994 e 1997 (nomes como AC/DC, INXS e David Bowie) em razão de uma “conjuntura favorável” tanto de projeção política da cidade quanto de um momento em que investir na vida noturna era bom negócio.

“Chegamos a ser a segunda melhor praça do Brasil, ficávamos antes do Rio em alguns casos . Hoje em dia, talvez sejamos os sétimos. O tempo todo sem a Pedreira nos tirou do circuito , mas agora com a volta do espaço e mais o estádio do Atlético Paranaense a tendência é uma retomada”, avalia.

No palco inundado da Pedreira, os Ramones tocaram o repertório de clássicos dos seus então vinte anos de carreira. Hits como “Teenage Lobotomy”, “Pet Sematary”, “Poison Heart” e “Strength to Endure” foram tocadas além de um cover (apropriado) de “Have You Ever Seen the Rain”, do Creedence Clearwater Revival.

Nos bastidores, a grande preocupação da produção era que fossem ministradas corretamente as muitas doses de medicação controlada que o vocalista Joey precisava tomar.

“Do tour manager até o carregador, passando pelo segurança, tudo mundo ficava em pânico na hora do remédio do Joey”, lembra o assessor de comunicação Fabiano Camargo. “Mas eles eram uns caras humildes, gente boa”, lembra.

Otávio Eloi Tambosi em meio à sua coleção dos RamonesAntônio More/Gazeta do Povo

Maior coleção do país

“Ver os Ramones no quintal de casa foi a melhor coisa que podia nos acontecer”, comenta o DJ e radialista Maurício Singer. “Os Ramones foram a banda que mais influenciou a cena musical de Curitiba. Naquele dia quem tinha banda foi lá ver. Quem não tinha montou a sua no dia seguinte.”

O empresário Otávio Eloi Tambosi se orgulha de ser o maior colecionador de memorabilia dos Ramones do país. Ele diz que “não tem nem ideia” de quantos itens tem ao todo, mas em seu acervo constam itens raros como dezenas de compactos e edições especiais de discos doze polegadas, fotos raras e autógrafos de todos os integrantes da banda entre milhares de outros.

“Eu sempre gostei de banda punk, mas o Ramones é fundamental. Começou quando eu ouvi o “Rocket to Russia” pela primeira vez, em 1986. Isso muda a vida de um cara de 14 anos.”

Otávio Ramone, como é mais conhecido, ficou na cola da banda nos dias em que eles ficaram na cidade. Os Ramones e sua equipe se instalaram no hoje desativado Hotel Rayon, que ficava ao lado então agitada Rua 24 horas.

Otávio fez fotos da banda, mas lamenta ter perdido uma oportunidade única. “Um amigo me disse que cruzou com eles tomando um chope sob os toldos roxos dos bares da rua XV.’

Quando a banda ia embora, Otávio seguiu a van dos Ramones até o Aeroporto Afonso Pena. “Consegui dar uma revista pela janela para o CJ e o Johnny autografarem. Depois no saguão, ainda deu pra trocar uma ideia com os caras.”

  • O povo enlouquecido esperava o grande show da noite.
  • Johnny Ramone: guitarrista não se dava com o colega Joey.
  • Fãs cabeludos do Sepultura antes da chuva.
  • Povão já lotando a Pedreira e o pogo comendo solto.
  • Joey; o gigante herói do punk rock em Curitiba.
  • Galera no “parque de diversões” do rock.
  • Ramones Mania: fã tatuou nas costas sua paixão pelos Ramones.
  • Garrafas voando: cheias de pedras e atiradas a esmo.
  • Panorama da Pedreira no final da tarde de 12 de novembro de 1994.
  • Ainda uma banda iniciante, coube aos raimundos esquentar o público.
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