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No Hotel Sands, em Las Vegas, Sinatra e Mia Farrow trocam olhares após se casarem no dia 19 de julho de 1966. | Corbis Corporation/Fotoarena
No Hotel Sands, em Las Vegas, Sinatra e Mia Farrow trocam olhares após se casarem no dia 19 de julho de 1966.| Foto: Corbis Corporation/Fotoarena

Pela voz, pelo temperamento, pelo papel que conscientemente assumiu de cantor romântico (provavelmente o último, a não ser que se creia que o velho Tony Bennett e o aposentado Vic Damone ainda possam dar o ar da graça), Sinatra é o nome maior, e sem substitutos, de uma brilhante geração de ítalo-americanos que enriqueceram a música vocal dos EUA.

Mas não é de um substituto para Sinatra que se quer falar, e sim do tipo de canção a que ele se dedicou. Sim, porque já não se fazem canções como “Put your dreams away”, “Night and day” e “Angel eyes”, para citar três de suas favoritas. Morreram seus compositores. Os mais próximos de Sinatra, os que mais escreveram para ele, Jimmy Van Heusen & Sammy Cahn, também se foram. Da mesma forma, outros gigantes da canção americana – Jerome Kern, Rodgers & Hart, Rodgers & Hammerstein, os irmãos Gershwin, Irving Berlin, Harold Arlen, Burton Lane, Jule Styne, Cole Porter – saíram de cena há muito tempo, todos antes de Sinatra.

Esses compositores e letristas foram os inventores, formatadores e principais cultores do tipo de canção em que se apoiou o repertório, não só de Sinatra, mas de todos os cantores americanos. Uma canção construída pela combinação de influências esteticamente tão distintas quanto podiam ser a opereta europeia do século 19, o folclore das diversas regiões dos Estados Unidos (incluindo cantos indígenas e a música religiosa dos pioneiros), sons judaicos e, naturalmente, o jazz. Nesse processo, a importância das minorias, negros e judeus, é grande. Os negros por criarem com o jazz alguns dos elementos, rítmicos e harmônicos, que marcariam o caráter da canção. E os judeus por terem sido os principais instrumentos na mistura de todas aquelas influências estéticas. Dos gigantes citados acima, somente Jimmy Van Heusen e Cole Porter não eram judeus (Porter, pelo menos, chegou a admitir que certas composições suas para o teatro, uma delas “Night and day”, eram intencionalmente judaicas).

De qualquer forma, é essa canção que se define na década de 1920, no pós-guerra, e vai alimentar de preciosidades o que se ouve nos discos, no rádio, no teatro musical e, por fim, no cinema. Uma canção com ênfase na melodia, ritmada ou lenta, e com uma sofisticação harmônica de que só músicos treinados eram capazes (dos compositores mencionados, à exceção de Berlin, todos eram musicalmente cultos). Uma canção, enfim, que vai embalar três gerações e, por meio século, influenciar a música popular de todo o mundo.

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