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Você é daqueles que sentem vergonha de música sertaneja? Há uma boa teoria para isso

“A música sertaneja relembra o brasileiro que ele é parcialmente interiorano, brega e melodramático: A maioria gostaria de ser novaiorquino ou londrino, não sertanejo.”

César Menotti e Fabiano: dos bares aos teatros | Diego Pisante / AGP
César Menotti e Fabiano: dos bares aos teatros (Foto: Diego Pisante / AGP)

É possível cravar 2005 como o nascimento do sertanejo universitário. Foi ali que as primeiras duplas do gênero conseguiram romper o nicho a que estavam restritas, alavancadas pelo sucesso de nomes como João Bosco & Vinícius e Cesar Menotti & Fabiano. Era também o início de redes sociais como Youtube e Orkut, instrumentos que se mostraram essenciais para a construção dessa roupagem mais moderna à música.

“Trata-se de mais um ciclo de vitalidade de um gênero que de 20 em 20 anos se remodela, ampliando seu público e incorporando outras sonoridades”, explica Gustavo Alonso, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor de “Cowboys do asfalto: música sertaneja e modernização brasileira”, que aborda a trajetória da música sertaneja, desde a origem caipira no interior do país até o sucesso internacional de nomes como Michel Teló.

“A especificidade música sertaneja surgiu nos anos 50, embora a primeira gravação tivesse ocorrido em 1929”, diz Gustavo. A partir da década de 50 a música rural incorporou novos elementos, como o bolero e ranchera mexicanos, a guarânia paraguaia, o chamamé argentino, e então surgiu a primeira grande distinção: os sertanejos foram aqueles que se mostraram abertos às influencias estrangeiras, enquanto os autonomeados caipiras defendiam um purismo musical do passado rural.

Sertanejo, funk e forró

Há pouco mais de dez anos, quem dá as cartas no mercado de música popular no Brasil é o sertanejo universitário. O sucesso deve-se, sobretudo, a capacidade em incorporar outros gêneros: “Ai se eu te pego” flerta com o forró; “Eu quero tchu, eu quero tcha”, pende para o funk.

“É um movimento que surgiu de forma independente, distribuindo CDs piratas, produzindo vídeos compartilhados através das redes sociais. Quando passaram a vender 30, 40, 50 mil de cópias, passaram a chamar a atenção das gravadoras e catalisaram seu sucesso. Mas, diferente da geração anterior, que se forjou dentro das gravadoras, os universitários criaram a si mesmos”, afirma Alonso.

Apesar do sucesso, a aversão de setores específicos da sociedade e da crítica ao gênero ainda é nítida. Para Gustavo, em geral, o público das mídias tradicionais é composto por setores de classe média que pouco ou nenhuma afinidade tem com o sertanejo; por isto o sertanejo os incomoda e ofende, sobretudo, roqueiros tradicionais. “Ele traz à tona algo incômodo: que o rock antes também era visto como banal, comercial, como música para adolescentes”, argumenta. Alonso crê que a música sertaneja relembra o brasileiro que ele é parcialmente interiorano, brega e melodramático: “A maioria gostaria de ser novaiorquino ou londrino, não sertanejo”.

Novos palcos

Sempre marcado por ser um gênero mais popular, hoje seus principais nomes tocam constantemente em teatros. Em Curitiba, apenas neste mês, Luan Santana e Cesar Menotti & Fabiano se apresentaram no Teatro Positivo – o Guaíra, recentemente, recebeu nomes como Victor & Léo e Jorge & Mateus.

“É um espaço onde o público tem a chance de assistir a apresentação sem distrações, diferente de um festival ou show aberto, por exemplo”, explica a produtora Márcia Correa, responsável por levar os já citados César Menotti & Fabiano ao Teatro Positivo. “Uma parte do público pedia isso, então notamos que essa carência poderia ser suprida com show em teatros”, completa.

De qualquer forma, os sertanejos começaram a se apresentar em redutos das classes médias e altas das capitais já no final da década de 80: Chitãozinho & Xororó, aliás, foram a primeira dupla a tocar no Teatro Guaíra; Leandro e Leonardo tocaram no Canecão, tradicional palco carioca, no início dos anos 90.

“Foi um escândalo na época. Teve jornalista de ‘O Globo’ que disse que o Rio estava vivendo uma ‘invasão alienígena’”, relembra Alonso. “Talvez o grande público estranhe essa inversão, mas quem acompanha o sertanejo universitário tem se mostrado bem aberto a este novo palco: este processo de chegada às capitais é contínuo e irreversível e o sucesso conseguido ajudou a trazer ainda mais público e a nacionalizar o gênero”, diz Márcia.

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