
Sem fazer alarde e em decisão tomada em acordo entre seus integrantes, a Sutil Companhia de Teatro resolveu "dar um tempo" da carreira iniciada em Curitiba em 1993.
SLIDESHOW: Confira alguns espetáculos que representaram mudanças de rumo na carreira da companhia
Nascida do encontro artístico entre o dramaturgo e diretor Felipe Hirsch e o ator Guilherme Weber, a Sutil construiu uma carreira marcada por um sucesso de público incomum para o teatro contemporâneo, catapultado pela montagem do espetáculo A Vida É Cheia de Som e Fúria, que estreou no Festival de Teatro de Curitiba do ano 2000 (leia mais nesta página). E também graças a uma integridade autoral que atraiu a atenção dos principais atores do teatro nacional, como Paulo Autran, Fernanda Montenegro e Marco Nanini, que escolheram trabalhar com o grupo.
A Sutil desenvolveu uma linguagem particular, facilmente identificável, com citações da cultura pop, como música, cinema e quadrinhos, temas de amor e memória, além do forte impacto visual dos cenários e da iluminação inovadora.
Grande parte das mais de 30 montagens foram exaltadas (com algumas exceções) pela crítica especializada e a Sutil venceu todos os prêmios possíveis da dramaturgia brasileira (confira a lista completa de espetáculos nesta página).
"A Sutil adquiriu uma personalidade muito marcante e, por isso, um público de muitas áreas diferentes que frequentou nossos espetáculos. Ao contrário de outros grupos que fazem teatro naquele oroboro [serpente que morde a própria cauda no simbolismo oriental], para a própria classe ou jornalistas que escrevem sobre teatro. A gente sempre foi o avesso disso", afirma Hirsch.
"Percebemos que tínhamos projetos individuais importantes e que o mais certo era dar um tempo no nosso trabalho conjunto", explica o diretor, sobre a interrupção das atividades.
Um dos pontos fundamentais, justifica, foi o fato de o grupo não poder mais se reunir em Curitiba para trabalhar junto como sempre ocorreu nos primeiros quinze anos de trajetória.
Mesmo após o estouro em São Paulo e no Rio de Janeiro, a Sutil sempre organizou os seus projetos em Curitiba. Além de Hirsch e Weber, outros artistas locais, como o iluminador Beto Bruel, a atriz Erica Migon e o sonoplasta Guto Gevaerd fazem parte da linha de frente da companhia desde o princípio.
"Tenho certeza de que um dos motivos é o fato de não conseguirmos mais criar juntos dentro do mesmo galpão. Estávamos espacialmente dispersos, embora muito ligados uns aos outros", reconhece Hirsch.
Nos últimos anos, o grupo centrou suas atividades no eixo Rio-São Paulo e incorporou novos integrantes, como a cenógrafa Daniela Thomas e o ator Leonardo Medeiros, entre outros.
"A Sutil é um título usado para definir vinte anos de trabalho de uma série de artistas que se reuniram por um imenso amor e respeito pela arte e para definir um repertório de trabalho. Não sei que título daremos aos próximos vinte anos, nem qual será o repertório construído", explicou o ator Gulherme Weber, a cara da companhia nas últimas duas décadas, em uma nota publicada nas redes sociais. "Mas seguiremos juntos, trabalhando, simplesmente porque adoramos estar juntos e trabalhando", garantiu.
Para Hirsch, a peça Lista de Itens do Paciente Estevão (2012) foi a última com a assinatura da Sutil. "Era quase uma consagração do que a gente tinha feito o tempo todo, mas já mirava para outro lugar", lembra.
O espetáculo Puzzle (a); (b); (c), encenado no ano passado, na Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, já levava a assinatura Ultralíricos. "Embora estejam todos os velhos parceiros, é um processo de transição em que nitidamente eu me viro para um outro caminho."






