
Qual um cientista em laboratório, o Nada Surf parece sempre estar tentando descobrir novas possibilidades para o rock que faz. Pois pense num power trio que começou na década de 1990 de um jeitão quase punk, pegou muitos pelos ouvidos em 1996 com "Popular", um hino sobre a adolescência, lançou pelo menos três discos recheados com um indie pop açucarado, e agora se sai com The Stars Are Indifferent to Astronomy, álbum considerado "filosófico" pelo próprio trio. Aliás, quinteto mais uma das experimentações atuais. No disco novo e no show que fazem no sábado (28), no Music Hall, a banda de Nova York também conta com as participações de Doug Gillard (Guided by Voices) e Martin Wenk (Calexico).
"A turnê está sendo a minha favorita de todos os tempos. Tocar com Doug e Martin é ótimo e o disco está soando muito forte ao vivo", disse em entrevista por telefone Matthew Caws, vocalista e guitarrista da banda, de sua casa em Cambridge, Inglaterra. Daniel Lorca (baixo) e Ira Elliot (bateria), são os outros parceiros-fundadores de Nada Surf.
A banda começou sua nova turnê brasileira em Recife, no festival Abril Pro Rock, passou por São Paulo e chega a Curitiba antes de seguir para Florianópolis (29/4), Buenos Aires (1º/5), Rio de Janeiro (2/5), Belém (4/5) e Fortaleza (5/5). As bandas Selvagens à Procura de Lei e Nuvens fazem os shows de abertura na capital paranaense (veja o serviço do show no Guia Gazeta do Povo).
Esta é a segunda vez do trio por aqui o Nada Surf já tocou no extinto Era Só o Que Faltava, em 2004. Para Matthew, foi um show surpreendente. "Havia mais pessoas do que esperávamos e todas elas sabiam as letras das canções. Foi muito bom mesmo", lembra o músico.
As canções a que se refere são do disco Let Go (2002), o mais "conhecido" deles. E esse é outro ponto interessante na carreira do Nada Surf. Apesar de o mainstream passar longe do trio, há uma legião de fãs que segue os passos dos músicos e está atenta a cada novidade vale a pena lembrar que a ideia inicial, que não deu certo, era fazer o show em Curitiba no esquema crowdfunding (financiamento coletivo).
"Não pertencemos ao mainstream e na verdade nunca quisemos isso. Não estou crucificando quem está dentro dele, mas acho que a música é mais do que isso. Tocar com amigos e fazer boa música é mais divertido do que ter hits por aí", atesta Matthew.
Açúcar no grunge
O Nada Surf surgiu em 1992, e não poderia fazer outra coisa a não ser ecoar o grunge que se ouvia por toda a América naquela época. High/Low, o primeiro disco (1996), é pesado, apesar de a voz de Matthew já demonstrar uma delicadeza interessante e apontar um contraste que seria um dos pontos fortes do grupo. A mudança de sonoridade foi perceptível principalmente a partir de Let Go, em que melodias incontornáveis ganhariam destaque, bridges inspiradas fariam diferença e os backings de Ira e Daniel seriam fundamentais para encaixotar a banda no balaio do indie rock.
"A única coisa que planejamos foi compor os discos. Nunca pensamos em seguir uma direção específica, até porque gosto de muitas coisas, do folk ao hip-hop", diz Matthew. "Talvez essa mudança tenha sido natural", completa o músico de 44 anos, pai de um filho de sete.
Lições de pai
Embora filosófico, The Stars Are Indifferent to Astronomy é o disco mais curto da carreira de 20 anos do trio, que namorou o tema em letras de outras músicas de álbuns anteriores.
"O nome do disco surgiu com meu pai. Ele é professor de filosofia, e falava muito sobre isso com a minha família: a imensidão do espaço e a relativa insignificância do ser humano", lembra o músico.
Para o show em Curitiba, todas as dez faixas do novo álbum devem estar no repertório, assim como outras que não podem faltar para os não muitos, mas intensos fãs da banda.
"Vamos tocar por cerca de uma hora e meia, e com certeza haverá músicas de outros álbuns, como Happy Kid, Weightless e Always Love. Até Popular andamos tocando por aí...", diz Matthew, que revela também a cancão que mais gosta de tocar em shows e brinca com um possível "conflito diplomático" causado por sua adoração por uma música de Tom Jobim. "Adoro tocar Do It Again nos shows e sei Corcovado de cor. Mas não me peçam, porque não vou tocar. Sei que essa música é sagrada aí", desconversa o simpático vocalista.




