
Em uma aula que ministrou sobre Nashville (1975), que finalmente acaba de ser lançado no Brasil em DVD, o critico norte-americano Roger Ebert (1942-2013) fez aos alunos a seguinte pergunta: "Sobre o que é o filme?". Ele mesmo acabou explicando aos pupilos que uma das razões pelas quais o longa-metragem é tão bom é porque não é fácil responder a essa indagação.
Para seu diretor, o cineasta Robert Altman (1925-2006), Nashville é um musical sobre os bastidores da música country na capital do gênero, no estado do Tennessee. Mas o filme, assinala Ebert, também pode ser visto como uma parábola política, escrita e realizada pouco depois do escândalo Watergate as cenas no Grand Ole Opry, principal casa de espetáculos da cidade, foram rodadas no mesmo dia em que o ex-presidente norte-americano Richard Nixon renunciou ao cargo, em 9 de agosto de 1974.
Nashville se passa ao longo dos cinco dias que antecedem a realização de eleições primárias para a Presidência dos Estados Unidos. Um candidato um tanto bizarro, chamado Hal Phillip Walker, que nunca é visto na tela, é o favorito para representar o Replacement Party, recém-criado.
Nashville, contudo, é um filme-coral, forma narrativa recorrente na cinematografia de Altman, na qual se entrelaçam várias histórias. Nesse caso específico, as tramas misturam amor, sexo, separações e reencontros, em um tom de melancolia, ainda que o filme jamais recorra ao melodrama.
A galeria de 24 personagens é fascinante. Uma das mais interessantes é Linnea Reese (Lily Tomlin, indicada ao Oscar de melhor coadjuvante por sua atuação), cantora gospel, esposa de Delbert Reese (Ned Beatty), advogado de Hal Phillip Walker. Ela é mãe de duas crianças e assediada por Tom Frank (Keith Carradine), um cantor sedutor que participa de um trio de folk rock e deseja começar uma carreira solo.
Carradine venceu, com a música "Im Easy", o Oscar de melhor canção original, que ele interpreta em cena. Seu papel teria sido inspirado no cantor e ator Kris Kristofferson, de Nasce uma Estrela e Comboio. Altman disputou os prêmios de filme e direção perdeu para o tcheco Milos Forman e seu Estranho no Ninho.
Outro personagem inspirado em uma artista country é a cantora Barbara Jean (Ronee Blakley, também indicada ao prêmio da Academia) uma estrela mentalmente instável calcada em Loretta Lynn, cuja cinebiografia, O Destino Mudou a Sua Vida (1980), daria a Sissy Spacek a estatueta de melhor atriz.
Assim como Short Cuts Cenas da Vida (1993), que retrata o cotidiano de vários personagens na Los Angeles dos anos 90, Nashville é exemplar na filmografia de Altman, um mestre na condução da narrativa e na direção de atores, que soube como poucos diretores compreender a alma norte-americana.





