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No viveiro existencial de Laís Mann

Telejornalismo, rádio, teatro, cinema. Laís Mann atravessou a história cultural paranaense. Mas não se trata só de passado

A atriz não quer fazer de seu passado uma permanência | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
A atriz não quer fazer de seu passado uma permanência (Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo)
Laís em fotografia publicada na revista O Cruzeiro, de 1972 |

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Laís em fotografia publicada na revista O Cruzeiro, de 1972

Na cafeteria, entre uma água sem gás e uma ajeitada em seus óculos escuros, Laís Mann dispara: "Eu não aguento mais falar de meu passado". Uma das páginas mais importantes do jornalismo paranaense, a loira (legítima) de charme irrepreensível e um tanto desbocada, não quer ser apenas lembrada como um capítulo fechado da história. "Parece que eu não tenho perspectiva, só memória. Mas eu não morri. Aliás, estou vivíssima". Hoje, aos 63 anos, ela não esconde um certo incômodo com a nostalgia e define o seu viveiro existencial de um modo extremamente direto. "Não sei quem disse que a velhice é a melhor idade. A melhor idade é aos 20, aos 30, aos 18 anos. Por outro lado, posso dizer a você que nunca estive tão bem comigo mesmo quanto hoje. Sou sozinha e feliz. Entendo-me."

Convenhamos, é difícil falar de Laís Mann sem voltar a um tempo anterior, mais precisamente aos anos 1970. Em um dos períodos mais tensos da ditadura, a jovem de 19 anos apresentava o Show de Jornal, na tevê Iguaçu, canal 4. Ao lado de Adherbal Fortes de Sá Júnior, Renato Schaitza, Jamur Júnior, João José de Arruda Neto e Haroldo Lopes, ela fez parte de uma equipe que marcou profundamente o telejornalismo paranaense, conferindo-lhe notas modernas, irreverentes e politizadas. Tornou-se um ícone e povoou o imaginário masculino da época. "Nosso telejornal tinha muita influência".

Filha de pais simples, moradores do então modesto bairro Água Verde, trabalhava como vendedora e modelo até que um dia foi "descoberta". "Eu estava num desfile e um diretor me chamou. Fui."

Dose de uísque

Atriz desde 1973, "com DRT e tudo", Laís tem em sua trajetória uma peculiar participação em cinema. Se trata de Um Uísque, Um Cigarro Depois, de Flávio Tambellini. "Eu fiz umas cenas mais ousadas e tal. O jornalista Aramis Millarch, a bordo daquele vozeirão, dizia que adorava meus seios nesse filme. Mas como meu papel era um tipo de dublê da atriz principal, uma coisa meio misturada, o que aparecia no filme não era meu... Ele repetia a história sempre que me via e ficava igualmente triste quando eu dizia isso".

Com quatro filhos e quatro netos, Laís não sente amargor da atual vida, menos agitada. Hoje, a avó reclama mesmo daquilo que chama de fim da poesia ancestral. "Está mais difícil ser uma avó que estraga a criança. Antigamente, a avó era aquela que deixava o neto comer doce ao invés de fazê-lo almoçar. Era quem deixava a molecada dormir sem tomar banho", lamenta.

"Eu sou assim: meu mundo é hoje"

Laís reconhece não ser, nem de longe, aquela moça quase ingênua a dizer "boa noite", empinando o nariz um pouco à direita. "O que me define é a liberdade. Sou solitária, sim, mas não depressiva. Minha solidão é libertária."

De fato, ela nunca foi conhecida por renegar o que pensa. "Não gosto nada de música sertaneja. Eles colocam a voz de um jeito errado. Uma das vantagens da velhice é não precisar ouvi-los". Se Ana Carolina não integra o seu relicário musical, "ela é bege", não são poucos os músicos da nova geração que ela admira. "Nossa, tem muita gente bacana produzindo em Curitiba. O Du Gomide, a Janaina Fellini, o Gustavo Proença, a Iria Braga, o Levi Brandão, são muitos."

Atualmente, a sua voz – Laís também é cantora – pode ser ouvida no programa Discoteca Particular, aos domingos, 18 horas, na rádio e-Paraná. Ela também se vira no teatro. "Tenho me envolvido em oficinas do Mauro Zanatta. O teatro é o que utilizo para lidar com esse cotidiano cada vez mais complexo e difícil de entender. A única coisa que quero mesmo é trabalhar."

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