
Com lançamento marcado para o fim do mês no Brasil (em CD, pelo selo LAB 344) e já disponível no Spotify, Girls in Peacetime Want to Dance é o nono álbum (e o primeiro em mais de quatro anos) do Belle and Sebastian, uma das bandas mais idolatradas do indie rock internacional.
Um rapaz e duas moças (uma com uma arma, outra com muletas), em tradicional foto em preto e branco, estão na capa do disco. Coisas que só o líder do grupo escocês o vocalista e compositor Stuart Murdochpoderá explicar, segundo informa o tecladista e um dos fundadores do B&S Chris Geddes.
"Era uma ideia que Stuart tinha há algum tempo, sobre uma garota que passou pela guerra e que foi transformada num robô. Os tempos de paz chegaram, ela quer dançar, mas tem aquelas pernas de robô, o que é meio trágico", conta ele. "Há, no disco, muitas canções para as pistas de dança com referências à guerra. Há, inclusive, um verso na faixa de abertura, 'Nobody's Empire', que diz: 'Se vivemos pelos livros e vivemos pela esperança, podemos virar alvo para a artilharia?'. Estava falando com Stuart que, à luz dos acontecimentos recentes [o ataque terrorista ao jornal satírico francês Charlie Hebdo], ela parece algo extraordinariamente profético. E a letra não foi escrita com pensamentos políticos, mas pessoais."
O novo disco chamou a atenção dos que acompanham o Belle and Sebastian pelo desembaraço com que os músicos se enfronharam no cânone do pop dançante eletrônico em faixas como "The Party Line" e "Enter Sylvia Plath".
"Já existia uma noção de como o disco iria caminhar. Quando Stuart chegou com 'Enter Sylvia Plath', ele não fez como de costume, que é mostrar a música no violão ou no piano. Ele me pediu para programar uma linha de baixo, e a partir dela é que começamos a arranjar a canção", conta Geddes.
"Esse longo hiato entre os nossos últimos discos se deve ao fato de Stuart ter feito um filme [o drama musical God Help the Girl, que teve exibição no ano passado no Festival de Sundance] no intervalo. Além disso, demoramos um pouco para escolher o produtor e para acertar com ele o cronograma de trabalho". Girls foi gravado em Atlanta, nos Estados Unidos, com o produtor Ben H. Allen, que trabalhou com artistas como Animal Collective e Cee-Lo Green.
Nas últimas semanas, a Matador, gravadora americana que lança os discos do grupo, liberou faixas no YouTube e em streaming. A estratégia retardou a chegada do álbum às lojas e não agradou ao tecladista. "Até ele sair, fizemos alguns retoques que normalmente não faríamos."
O Belle and Sebastian já está na estrada para promover o novo disco, em shows pela Austrália e pela Nova Zelândia. "No palco, uso o laptop para disparar as baterias eletrônicas e as sequências de sintetizadores das músicas. Em 'Sylvia Plath', são quatro teclados!," conta Geddes. "Em canções antigas, como "The Boy With the Arab Strap" [do álbum de mesmo título], nós voltamos ao instrumental antigo, com as guitarras de sempre."
>No palco
Banda se diz mais "profissional" e quer voltar ao Brasil em 2015
Os quase 20 anos de carreira (a banda foi fundada em 1996) contam bastante para a naturalidade que o Belle and Sebastian apresenta hoje nos shows. "No começo, éramos realmente meio amadores. Tínhamos um compositor fantástico, mas não éramos muito bons como banda. Hoje em dia, sinto-me bem mais profissional", admite o tecladista Chris Geddes.
Com shows agendados para este ano em alguns dos principais festivais de música do mundo, como os americanos Coachella e o Bonnaroo, o B&S desfruta de uma posição curiosa: é uma banda de grande popularidade, mas dentro dos estreitos limites do rock alternativo.
"Podemos tocar na Ásia e na América do Sul, nossa música se conecta com pessoas de todo canto. Ao mesmo tempo, estamos distantes do mainstream. Quando tocamos em festivais, conseguimos ver o porquê de bandas como Franz Ferdinand e The National seram maiores do que nós. A comunicação que elas conseguem estabelecer com o público é bem mais direta", acredita Geddes, reconhecendo que a banda tem fãs realmente comprometidos com sua visão artística. "Quando viemos ao Brasil pela primeira vez [em 2001, para o Free Jazz Festival] nunca escondemos a nossa paixão pela música do país. E as pessoas nos acolheram de uma forma muito afetuosa, o que nos deixou muito orgulhosos."
A volta da banda ao Brasil, onde esteve pela última vez em 2010, é uma possibilidade bastante concreta. "Com sorte, até o final do ano passaremos por aí", afirma o músico.




