
Ricardo Linhares já tinha escrito mais da metade da nova versão de Saramandaia, adaptação da obra de Dias Gomes (1922-1999) que estreia segunda na Globo, na faixa das 23 horas, quando viu explodir nas ruas do país uma trama bem parecida com a sua.
"Vejo esses protestos como uma insatisfação generalizada contra políticos, e é exatamente disso que trata a novela", disse o autor, que mora no Rio de Janeiro.
"Quando comecei a escrever os capítulos, em outubro, já sentia essa revolta contra tudo e contra todos que está em ebulição no mundo. A novela começa com o Occupy o Coreto e os personagens dizem que estão vivendo a primavera saramandense."
O caráter político já fazia parte da obra de Dias Gomes, escrita logo após a censura à sua Roque Santeiro (1975).
Exibida no ano seguinte, Saramandaia incorporou alguns personagens da trama proibida como o professor que vira lobisomem e se destacou pelas metáforas usadas para driblar a ditadura e por levar à TV o chamado realismo mágico, com personagens extraordinários.
"Não faria sentido refazer uma obra dessa sem referências à nossa vida política. O Dias era um cara político e o realismo mágico se caracteriza pela crítica social e política", diz Linhares, que incluiu referências ao mensalão e a outros episódios recentes.
Comédia
Ele frisa, no entanto, que sua versão é uma comédia. "Não é como Anos Rebeldes [1992, na qual foi um dos colaboradores de Gilberto Braga], que queria documentar realmente aquela situação [a ditadura militar brasileira]."
Linhares propôs à Globo fazer um remake há cerca de oito anos. Quando consultou o material original, viu que ele "não tinha tramas, era como se fossem esquetes", e criou um fio condutor inédito a Globo divulga a novela como sendo "livremente inspirada na obra original de Dias Gomes".
"Criei uma história de amor e ódio entre duas famílias, por três gerações."
Linhares diz ter aproveitado "os personagens emblemáticos do Dias" [veja ao lado] e criado outros, também com traços de realismo mágico como o de Lilia Cabral, que se derrete por amor, e o de Tarcísio Meira, que criou raízes de tanto ficar sentado.
Para isso, valeu-se de algo que o autor original não tinha a seu dispor: efeitos especiais criados em computador.
Tudo que a primeira versão tinha de tosca na hora de mostrar gente voando ou botando formigas pelo nariz, a nova Saramandaia promete de surpreendente. Com 57 capítulos (contra 160 da original) de meia hora cada a exceção é o primeiro, de uma hora , tem o tamanho que o autor considera ideal.



