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Mostra de Cinema de São Paulo

Novo Almodóvar é melodrama noir

Penélope Cruz é mais uma vez a estrela de Almodóvar em Abraços Partidos | Fotos: Divulgação
Penélope Cruz é mais uma vez a estrela de Almodóvar em Abraços Partidos (Foto: Fotos: Divulgação)
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São Paulo - Abraços Partidos (2009), que chega à Mostra Internacional de São Paulo após ser exibido no Festival do Rio, como o próprio nome sugere, é um filme sobre o amor interrompido. O melodrama, uma característica das histórias do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, desta vez vem acompanhado de uma atmosfera noir e de uma discussão sobre o próprio cinema e o poder da imaginação mesmo em meio a grandes crises.

Sim, pois foi em meio a uma aguda enxaqueca que o diretor desenvolveu o argumento deste filme, indicado à Palma de Ouro do Festival de Cannes deste ano e com previsão para estrear no Brasil no dia 20 de novembro. Seu protagonista, Harry Caine (Lluís Homar), um cineasta que mesmo após ficar cego nunca parou de criar, é até certo ponto seu alterego.

A história de Abraços Partidos vai sendo apresentada ao público como em um thriller de Alfred Hitchcock, alternando-se presente e passado. O diretor cego vive aos cuidados de sua agente Judit (Blanca Portillo) e o filho dela, Diego (Tamar Novas), um jovem DJ que sonha em fazer seu primeiro filme. Ele é surpreendido por Ray-X (Rubén Ochandiano), um falso documentarista gay que quer contratá-lo para produzir um roteiro contra o pai homofóbico, o magnata Ernesto Martel (José Luiz Gómez). O encontro desagrada Caine e o faz retroceder 14 anos no tempo para recordar uma grande tragédia.

A bela secretária de Martel, Magdalena (Penélope Cruz), por quem o milionário é apaixonado, faz programas para ajudar o pai, que está morrendo de câncer. Em troca de ajuda, ela decide viver com o patrão. Mas, sua escolha terá conseqüências trágicas quando ela se apaixonar por Mateo Blanco, diretor do filme Chicas y Maletas, que irá protagonizar a contragosto do marido. Em meio a uma trama de suspense forjada por interesses financeiros e sentimentais, Almodóvar insere alusões às suas primeiras comédias escrachadas em cenas do filme dentro do filme que é, na verdade, um pastiche de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988).

O espectador vai juntando, aos poucos, os fatos e relacionando as histórias de Harry Caine, Raio-X, Judit e Diego às de Magdalena, Er­­nesto e Mateo neste que o próprio Almodóvar considera seu filme mais difícil. Com a história solucionada, não há revanches ou vinganças, mas uma opção pelo perdão e por não julgar o ser humano.

Abraços Partidos diferencia-se da cinematografia oitentista do diretor espanhol pelas opções mais refinadas sem, no entanto, deixar de fazer referências a essa fase em uma espécie de auto-homenagem. Ele não deixa de lado a intensidade de seus melodramas de cores quentes que, neste filme, aparecem diluídas em uma iluminação amarelada. Como em seus filmes anteriores mais recentes, Tudo sobre Minha Mãe e Volver, ele magnetiza os olhares da platéia em direção à sua diva Penélope Cruz, que no "filme dentro do filme" se produz como Audrey Hepburn, outra atriz-fetiche do cinema.

Os movimentos de câmera lembram produções como Psicose em um filme que é, também, uma homenagem de Almodóvar a diretores que admira (há uma cena em que Caine pede que Diego coloque no DVD o filme Ascensor para o Cadafalso, primeiro filme de Louis Malle, só para ouvir a voz de Jeanne Moureau). Imperdível. GGGG

O jornalista viajou a convite da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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