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Música

O albino toca-tudo e a morena de Erechim

Hermeto Pascoal, morador de Curitiba há seis anos, é outro artista que encontrou sua cara-metade em terras paranaenses

O casal  Hermeto Pascoal e Aline Morena: músicos moram no bairro Santa Felicidade, em Curitiba: amor também pela música | Divulgação
O casal Hermeto Pascoal e Aline Morena: músicos moram no bairro Santa Felicidade, em Curitiba: amor também pela música (Foto: Divulgação)
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"Escuta isso", pede Hermeto Pascoal. O que se ouve é um som esganiçado, repetitivo. Não chega a incomodar porque há pequenas variações de altura entre um "snif" e outro. "Tá vendo? Na minha cabeça tudo é música", explica, revelando na sequência o seu instrumento: um recém-adquirido bicho de pelúcia. "Pode até virar uma música erudita!", exagera.

O multiinstrumenstista é mais um dos artistas "neocuritibanos". Morador da cidade há seis anos, veio pelo mesmo motivo que fizeram o músico André Abujamra e o guitarrista Xandão – d’O Rappa – mudar de cidade e o rapper B Negão dar as caras na capital paranaense com mais frequência: encontraram sua metade da laranja (veja quadro).

O albino de 72 anos esbarrou com Aline Morena, 29, em um workshop em Londrina, em outubro de 2002. Hoje formam a dupla Chimarrão com Rapadura: ele é alagoano de Lagoa da Canoa e ela gaúcha de Erechim. "Também somos o casal 101", diz Hermeto, logo somando as idades.

Aline diz que sempre procurou o melhor da música. Confessa que achou há sete anos, quando subiu ao palco em Londrina. Cantou uma música de Hermeto, que no dia seguinte a levou para o Rio de Janeiro. "Quando encontrei a música dele, fui direto", sintetiza Aline. "Juntamos a fome com a vontade de comer. Estamos juntos e a mil."

A música está em primeiro lugar para o casal que mora no bairro de Santa Felicidade. Ela canta e ele toca. Tudo. De piscina a piano; de berrante a saxofone; de bicho de pelúcia a violão. Para Hermeto, até a voz do repórter pode virar uma sinfonia. "Sua voz é meio ‘laaaa, lari-laaaa", cantarola o músico, que se explica. "É coisa de nascença, sempre tive essa tendência. Eu ouço o som da aura e o verdadeiro cantar da gente é a fala", diz o músico. Quando, ainda nas Alagoas, entretia passarinhos com seu pífano feito de gerimum ou tirava sons da sucata do avô ferreiro, Hermeto foi quase considerado caso perdido. Uns diziam que era louco. Outros, que sofria problema de audição. Mas o que tinha era um ouvido absoluto. Seu remédio foi a composição.

Entre seus mais de 30 discos lançados desde a década de 1960, destaca-se o Calendário do Som, trabalho que virou livro em 1999. De 23 de junho de 1996 a 22 de junho de 1997, Hermeto compôs uma música por dia onde quer que estivesse. O objetivo era homenagear todos os aniversariantes do mundo. O alagoano também é muito reconhecido internacionalmente. Participou de vários festivais de música instrumental nos Estados Unidos e na Europa. Para lá ele volta na segunda quinzena desse mês, agora acompanhado de Aline. O duo faz apresentações em Portugal e no Festival de Jazz de Verona, na Itália.

Curitiba

Hermeto se incomoda menos com o frio do que a com "falta de espaço" para demonstrar seu trabalho. "Nossa casa aqui era o Paiol, na década de 1980. Agora estou retomando minha atividade em Curitiba. Mas aqui não tem espaço. E nós não tocamos por ingresso, e sim por cachê", explica.

Mas o duo continua trabalhando. Tanto no resgate de músicas de outrora – ele cedeu seus direitos autorais e disponibilizou sua discografia no site www.hermetopascoal.com.br – quanto na alimentação de seu vício pela composição, refrescado pela mudança de ares. "Ele está ansioso por mais música, dá para ver", diz Aline, que reflete sobre a programação cultural da cidade. "Em teatro sempre tem muita coisa acontecendo. Na música, em termos de qualidade, a cidade está devendo. Acho que o que faltam são bons produtores. Se eles existem, que se manifestem", cutuca a cantora.

Os últimos trabalhos são os "filhos" do casal. Em formato de CD e DVD, Chimarrão com Rapadura foi lançado de maneira independente em 2006. Sobre herdeiros de carne e osso – e música –, há que se esperar mais oito anos. "Já estamos pensando em filhos. Mas vou esperar fazer 80. Aí não tenho mais medo do pai dela", brinca o músico.

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