
Entrevista com André Dahmer - Quadrinista
Suas tiras tratam de alcoolismo, depressão, traições e egoísmo. Não por acaso, sua principal dupla de personagens leva o nome de Malvados, série que pode ser acessada diariamente pelo site www.malvados.com.br e virou livro: o recém-lançado Malvados (Editoria Desiderata, R$ 29,90).
O autor da coisa toda, porém, faz questão de separar o criador da criatura. O carioca André Dahmer, de 33 anos, na verdade, segue o estilo bonzinho: tem ótima relação com os pais, acredita num futuro melhor, ama a vida e prefere o silêncio ao rock-and-roll. Por e-mail, ele concedeu entrevista à Gazeta do Povo falando do seu novo livro, de suas referências e até de suas mulheres.
Gazeta do Povo Quando você começou a desenhar? Isso te ajudou em alguma coisa? Melhorou sua vida social? A relação com seus pais?
André Dahmer Comecei a desenhar na idade em que todos começam, a diferença é que fui incentivado e jamais parei. Minha relação com meus pais sempre foi muito boa, recebi todo o apoio para seguir carreira nas artes gráficas. Também não tive qualquer problema maior com outras esferas afetivas. Na verdade, o desenho me ajudou muito em outros aspectos da minha vida: canalizou minha energia (que é demasiada grande) e me deu paz e força para seguir em frente. Sem ele, não sei realmente o que seria de mim.
Quais as novidades do seu novo livro em relação a seus trabalhos anteriores?
Meu trabalho anterior, O Livro Negro, era algo mais pessoal e eu queria muito publicar antes de qualquer outra coisa. Malvados, lançado este ano, tem como finalidade reunir as tiras que publiquei sobre os dois mal afamados personagens em um livro só.
Além do site do Malvados e dos livros, onde mais podemos ter acesso a sua obra?
Publico na Folha de S.Paulo, no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, e no portal G1, da Globo, além de contribuir regularmente para revistas.
Alguns temas são recorrentes nas suas tiras: solidão, desespero, incapacidade de entender o outro, angústia. Você é um pessimista?
Muito pelo contrário, sou uma pessoa que ama a vida e a humanidade, mesmo sem ter muitos motivos para isso. Ocorre certa confusão com minha imagem porque meu trabalho busca a documentação crítica da realidade. Apesar dos pesares, apostaria todas as minhas fichas em um mundo melhor.
As mulheres também estão sempre presentes no seu trabalho. Até que ponto, as tiras que tratam delas são autobiográficas?
Algumas tirinhas realmente mencionam mulheres que passaram pela minha vida, mas isso não é a regra. É que tenho feito quadrinhos políticos e de costume há tempos, é preciso buscar referências, não necessariamente referências autobiográficas. Tenho observado muito as vivências dos outros, fonte rica e inesgotável para meus quadrinhos.
O Brasil é meio Ziniguistão?
O Ziniguistão foi inspirado nos regimes de exceção de ditadores africanos e outros oriundos da Europa Oriental e Ásia, por exemplo. Mas a realidade de violência retratada nessa série é universal.
Quais são os melhores cartunistas da atualidade? Quais cartunistas inspiraram seu trabalho?
Fiz pouco cartum na vida, trabalho mais com quadrinhos. Mas posso citar Allan Sieber como o melhor cartunista da atualidade e Angeli, o melhor chargista.
O que você escuta? Se os Violentos do Amanhã (série que faz parte do site Malvados) gravassem um disco, você se interessaria?
Escuto pouquíssima música: apenas um pouco de MPB e de bossa nova. E prefiro mil vezes o silêncio do que qualquer música. Sobre a série Violentos do Amanhã, certamente, não escutaria o disco e não iria ao show. Não ouço rock porque, de agitada, já basta a vida.



