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Cinema

O Brasil através de outros olhos

No longa-metragem de animação Uma História de Amor e Fúria, o cineasta Luiz Bolognesi quer fazer com que jovens e adolescentes se interessem pela história do próprio país sem perder de vista o entretenimento

“Já nessa época, comecei a pensar na possibilidade de escrever e dirigir um filme de animação que trabalhasse com aspectos da história do Brasil, questionando algumas ‘verdades’ e resgatando episódios de certa forma expurgados do imaginário nacional.”- Luiz Bolognesi, roteirista e cineasta | Divulgação
“Já nessa época, comecei a pensar na possibilidade de escrever e dirigir um filme de animação que trabalhasse com aspectos da história do Brasil, questionando algumas ‘verdades’ e resgatando episódios de certa forma expurgados do imaginário nacional.”- Luiz Bolognesi, roteirista e cineasta (Foto: Divulgação)
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O roteirista e cineasta paulista Luiz Bolognesi, de 47 anos, é um sujeito ambicioso. Ele não apenas ousou realizar um longa-metragem de animação (gênero que cosuma ser identificado com o público infantil), voltado para adolescentes e jovens universitários, mas também pretende despertar nesses espectadores potenciais o interesse pela História do Brasil. Isso tudo sem cair na armadilha de fazer uma obra didática, incapaz de seduzir uma audiência que hoje vive a toda velocidade.

Uma História de Amor e Fúria, resultado da empreitada capitaneada por Bolognesi por mais de uma década, desde sua concepção, estreou nos cinemas na última sexta-feira, com 70 cópias, e, em grande medida, consegue atingir a meta almejada pelo diretor. Fala de momentos significativos da história brasileira sem abrir mão de oferecer uma narrativa envolvente, instigante, dentro da qual fatos da epopeia nacional através dos séculos não surgem na tela de forma artificial e forçada. E mais: o filme consegue desafiar alguns conceitos estabelecidos ao longo de décadas pela chamada história oficial. Como diz um dos personagens da trama, seus heróis não são aqueles que viraram estátuas públicas, como o Duque de Caxias, mas aqueles que os combateram.

Imaginário

Bolognesi conta que a ideia de realizar Uma História de Amor e Fúria surgiu pouco depois do lançamento de Bicho de Sete Cabeças (2001), filme assinado por Laís Bodanzky, sua mulher, baseado no livro autobiográfico do autor curitibano Austregésilo Carrano Bueno, Canto dos Malditos.

O longa estrelado por Rodrigo Santoro, cujo roteiro foi escrito por Bolognesi, fez sucesso de crítica e de público, apesar de tratar de um tema teoricamente indigesto: o sistema manicomial brasileiro. O roteirista viu essa boa repercussão como um sinal. "Já nessa época, comecei a pensar na possibilidade de escrever e dirigir um filme de animação que trabalhasse com aspectos da história do Brasil, questionando algumas ‘verdades’ e resgatando episódios de certa forma expurgados do imaginário nacional", diz o cineasta.

Inspirado em mitos indígenas, pesquisados por Bolognesi com a consultoria de antropólogos e especialistas na cultura nativa brasileira, Uma História de Amor e Fúria promove o que o diretor chama de "uma interpelação crítica da história oficial do Brasil".

No enredo, um homem e uma mulher se encontram em diversos momentos ao longo dos mais de cinco séculos da saga brasileira. Primeiro como um casal de índios tupinambás, nos primeiros anos da colonização do Brasil. Depois, no século 19, eles ressurgem, "reencarnados", como negros, ainda sob o espectro da escravidão, tendo como pano de fundo a Balaiada, revolta ocorrida no Maranhão entre os anos de 1838 e 1840. O salto temporal seguinte transporta os personagens para manifestações de protesto contra a ditadura militar em 1968, quando eles voltam a se encontrar no movimento clandestino de resistência ao governo, como guerrilheiros. Por fim, a narrativa chega ao ano de 2090, quando o Brasil é dominado por milícias e a água é um bem tão precioso e raro que passa a ser traficado.

Em todos esses episódios, que se entrelaçam, os personagens estão sempre envolvidos com a resistência a situações de injustiça que os cercam e vitimizam, mas frente aos quais nunca adotam uma postura passiva. "Se eu conseguir que esse filme desperte nos adolescentes e estudantes univeraitários o interesse deles pela História, vou ter alcançado meu objetivo."

Técnica

Uma História de Amor e Fúria foi feito com técnicas de animação clássicas: os personagens foram desenhados e animados com lápis sobre papel, a partir das emoções oferecidas pela performance dos atores, pré-gravadas. Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro interpretaram o texto em estúdio e, posteriormente, a equipe do longa utilizou a gravação como referência para a confecção dos desenhos.

A tecnologia digital só foi utilizada para a "construção" dos cenários a da sequência de desfecho do filme, cuja concepção visual tem muito a ver com os animes japoneses e com os trabalhos de grandes mestres da graphic novel, como Frank Miller e Moebius, entre outros.

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