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Pintura

O Brasil cordial na arte de Di Cavalcanti

Retrospectiva com mais de 70 obras do modernista que retratou o povo e a cultura do país de maneira ímpar abre hoje no MON

Cinco Moças, da Coleção Masp, é um dos quadros da mostra | Divulgação
Cinco Moças, da Coleção Masp, é um dos quadros da mostra (Foto: Divulgação)
Mais de 70 obras foram selecionadas para a exposição no MON |

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Mais de 70 obras foram selecionadas para a exposição no MON

O pintor Di Cavalcanti (1897-1976) extravasou em suas pinturas duas qualidades que o tornaram um artista singular: representou o Brasil no momento em que viveu, e fez isso sem precisar abusar das paisagens nacionais. Apresentar o período mais criativo de Di foi a intenção do curador Olívio Tavares para a mostra Di Cavalcanti, Brasil e Modernismo, que inaugura hoje, às 19 horas, no Museu Oscar Niemeyer (MON). A exposição comemora o aniversário de 10 anos do espaço, completado em novembro (veja o serviço completo da exposição no Guia Gazeta do Povo).

Nas mais de 70 obras que selecionou, tanto de colecionadores como de museus, como o de Arte de São Paulo (Masp), Tavares quis mostrar Di Cavalcanti como "o grande pintor enquanto foi um grande pintor", fase que, segundo o curador, foi de 1922 a 1950, "sendo que, nos anos 1930 e 1940, ele foi excepcional". Além disso, ele salienta que Di foi o pai da Semana de Arte Moderna de 1922. "Foi o artista mais importante ao lado de Anita Malfatti."

O declínio da produção do artista (que começou a carreira ilustrando para a revista Fon Fon) ocorreu quando ele passou a ficar famoso pelo retrato de figuras femininas, sobretudo das mulatas. "A partir dos anos 1950, todo mundo queria um Di, virou uma grife. E os quadros das mulatas eram reconhecidos automaticamente, então, todo mundo pedia. Essa demanda de mercado fez ele se repetir de 1955 até 1976, quando morreu." Na exposição do MON, o curador optou por trazer poucos quadros dessa fase, e ressaltou outros períodos pelos quais o artista é menos conhecido. As mulheres, entretanto, estão bastante presentes na mostra, mas de uma maneira sutil, sem o tom sensual que também caracterizou sua obra. "Ele até se vendeu como um grande erótico, mas a maioria dos quadros expostos aqui traz a presença de uma mulher cândida, algumas com uma melancolia no olhar", explica.

Humano

Di Cavalcanti chegou a ingressar no Partido Comunista em 1928, mas logo percebeu, conta Tavares, que era acima de tudo um "humanista." Portanto, o pintor não foi politicamente engajado, diferentemente de outros, como Cândido Portinari. "Portinari retratou um Brasil mais dramático, enquanto o de Di é mais cordial." A crítica social, entretanto, não foi deixada de lado: na mostra, desenhos de 1933 têm títulos que cabem perfeitamente no Brasil contemporâneo. O pintor também aceitou vários trabalhos por pura necessidade financeira. "O mercado de arte no Brasil era inexistente. A venda de quadros começou timidamente após 1945. E ele iniciou como ilustrador, assim como Volpi (artista ítalo-brasileiro) foi pintor de parede", destaca Tavares.

Incêndio

A destruição do quadro Samba em agosto deste ano, em um incêndio na casa do marchand e colecionador Jean Boghici, não ocasionou, segundo o curador, dificuldade para empréstimos de trabalhos de Di Cavalcanti, nem elevou o valor do seguro para as exposições. "Ninguém deixou de fornecer quadros." Além da inauguração da mostra, ocorre hoje a ação Mais MON (entrada gratuita das 18h às 20h e horário estendido), e lançamento do making of da mostra Múltiplo Leminski, em cartaz no museu.

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