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 | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

No mormaço de Paranaguá, nos anos 1980, um garoto curioso costumava se espichar na rede, pontualmente entre o Snoopy e a hora do almoço. Seu pai colocava, possivelmente num Gradiente 3 em 1, uma fita K7. E o ritual se completava assim que Nat King Cole desandava a cantar. Unforgettable.

Essas são as primeiras memórias musicais do jornalista Alvaro Borba. Revolucionário moderno, ele é um dos responsáveis pela gestão das mídias sociais da prefeitura de Curitiba, que com música, bom-humor e capivaras, virou case nas aulas de marketing.

Seu irmão sete anos mais velho, fã de Ramones e "entusiasta" de Chico Science, também tem culpa no cartório. Mas brigavam muito, os meninos. E aí aconteceu. Alvaro atacou a coleção "absolutamente organizada" de fitas do mano. Com uma tesoura, destruiu várias. Nunca mais Sex Pistols. Adeus, Soundgarden. "Não tem nada na vida de que eu guarde mais remorso do que isso", diz Alvaro. "Nunca fui perdoado, mas também não espero ser." Felizmente hoje está tudo numa boa, garante. Pequena loucura: na época em que ouvia um "hardcorezinho", o jornalista tentou o violino. Não durou muito tempo porque, "canhoto enrustido", não tinha coordenação.

Hoje, a preferência de Borba é por "músicas suaves." Aquele Tim Maia das antigas, por exemplo, é um "patrimônio histórico." Mas seu negócio ainda é do rock. Prova disso são as postagens da prefeitura de Curitiba no Facebook, desejando boa noite sempre com uma música. Na escala, ficou com as noites de domingo. É quando brinca de DJ, e acerta sempre.

Discografia

Alvaro Borba comenta as escolhas que fez a pedido da Gazeta do Povo.

Guts – Pin Ups (1997)

Em 1997, eu frequentava uma loja de discos numa galeria na Ébano Pereira. Havia duas garotas atrás do balcão e quem me atendia era sempre a mesma; uma menina que levava a moda grunge muito a sério, apesar do avançado da década. Há uma parte do meu gosto musical que se construiu na tentativa de impressionar essa moça. Para cada CD que eu levava, ela me dava meia hora de atenção. Ouvíamos as mesmas coisas, aparentemente. Certa vez ela me perguntou se eu tinha como ouvir um vinil. Eu disse que sim e, por insistência dela, fiquei com esse single do Pin Ups. Foi nossa conversa mais animada. Infelizmente, um pouco depois disso, eu fiz algo muito estúpido: levei o álbum de estreia das Spice Girls (seria útil numa festinha do colégio). A moça riu, visivelmente decepcionada. Não tive coragem de entrar na loja novamente.

If You Are Feeling Sinister – Belle and Sebastian (1996)

O álbum é de 1996, mas eu devo tê-lo conhecido só em 1998. Eu realmente não lembro como o descobri, mas sei que foi pela internet. Quando a conexão de 56Kbps caia, você ficava apenas com um pedaço da música. A primeira coisa que ouvi foram os primeiros 59 segundos de "Judy and the Dream of Horses". Gostei muito, mas não entendi o impacto que aquilo teria na minha vida. Quando consegui baixar mais uma meia dúzia de faixas, ficou mais claro: eu tinha uma banda preferida. Junto com o Tigermilk e o The Boy With the Arab Strap, esse álbum virou meu evangelho. Eu pregava sem noção nenhuma; chegava nos caras que curtiam Metallica e soltava: "Você já ouviu B&S?". A pregação não funcionou. Quando a banda se apresentou no Free Jazz, em 2001, fui sozinho ver o show.

Dark Side of The Moon – Pink Floyd (1973)

Para mim, o Dark Side of The Rainbow é a coincidência mais maravilhosa que a humanidade já produziu (se for uma coincidência). A banda acha que a sincronia entre o Mágico de Oz e esse álbum é coisa de gente com tempo demais. Eu, que nem tenho tanto tempo livre assim, acho uma experiência quase espiritual. Há quem argumente que a sincronia só se destaca porque o cérebro da gente é naturalmente talhado para encontrar padrões. Pode ser, mas vou continuar achando incrível mesmo assim. Quando lançaram aquele dilema dos Beatles vs. Stones, um primo soltou "Pink Floyd!". Acho que ele foi hostilizado pela maioria dos presentes, mas eu repensei a questão. Dá para debater se Dark Side of The Moon é ou não o disco mais fundamental do rock, mas não dá para negar que é o mais misterioso.

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