
Bem antes de se tornar fetiche nacional graças à Norminha, a dona de casa fogosa que interpreta na novela "Caminho das Índias", a atriz Dira Paes já havia conquistado outro título: o de musa da retomada do cinema brasileiro. Em 25 anos de carreira, a paraense de 41 anos atuou em 28 filmes de sucessos de público como "Dois filhos de Francisco" (2005) ao alternativo "A festa da menina morta" (2008).
Essa longa e versátil trajetória será homenageada na 37º edição do Festival de Cinema de Gramado, que começa neste domingo (9) e vai até o dia 15.
"Não me considero musa, mas parte intrínseca da engrenagem. Até porque eu já fazia filmes antes da retomada", considera a atriz, referindo-se ao período que marcou a nova safra criativa do cinema nacional, com produções como "Central do Brasil" (1998) e "Cidade de Deus" (2002).
"A retomada veio para acabar com aquele ranço de que só éramos capazes de produzir longas de baixa qualidade, coisa que nunca foi verdade", avalia Dira. "O fato de ter acreditado no nosso cinema, mesmo antes de ele ser prestigiado como é hoje, me trouxe credibilidade como atriz".
Tanto que, ao contrário do que se possa imaginar, Dira não considera sua atual personagem televisiva o momento mais alto da carreira. "O cinema já me fez tão feliz quanto a Norminha faz agora, com todo esse êxito popular", garante.
Ela cita como exemplo "Amarelo manga" (2003), longa do controverso cineasta Cláudio Assis, no qual interpretou uma mulher reprimida pela religião. "Foi um filme que não fez tanto sucesso, mas me deixou muito realizada. Claro que a aceitação do público é importante, mas não posso ficar contando só com isso".
"My name is Djirá"
A beleza brasileiríssima - resultado da mistura clássica entre índios, negros e portugueses - foi quem lhe abriu as portas do cinema. Em 1984, produtores da Embassy Films procuravam uma jovem atriz para integrar o elenco da superprodução "A floresta das esmeraldas", do britânico John Boorman, que seria rodada na Amazônia.
Dira, na época uma adolescente de 15 anos, ficou sabendo dos testes pelo professor de teatro em Abaetetuba, cidade natal da atriz, localizada a 62 quilômetros de Belém.
"Meu início foi de Cinderela, o sapatinho coube no pé. Primeiro porque meu tipo físico era o que procuravam. E eu já falava o básico do inglês", relembra. "Quando perguntaram meu nome, respondi "my name is Djirá", tentando imitar o sotaque deles. Que cafona...", diverte-se.
Os traços brejeiros da atriz aliado ao prestígio artístico conquistado vez ou outra voltam a gerar convites para papéis específicos no cinema. Caso de "Amazônia caruana", longa de Tizuka Yamazaki que deve estrear em 2010, no qual interpreta Cotinha, mulher de raízes indígenas.
Bodas de prata
"A floresta das esmeraldas" foi o passaporte carimbado de Dira para a sétima arte. "Ele, o boto" (1987), "Corisco & Dadá" (1996) e "Anahy de las misiones" (1997) vieram em seguida, para sacramentar seu casamento com o cinema.
"Fiz bodas de prata na carreira, me considero uma jovem-velha atriz", revela. "Meu plano é chegar aos 50 anos e ter feito 50 filmes. Acho que estou com uns três aí de vantagem para alcançar a meta...", contabiliza.
Num percurso tão longo, natural que Dira não considere acertadas todas as opções feitas. "Alguns filmes considero legais, outros nem tanto. Aprendi com os sucessos e os fracassos", pondera. "Mas meu critério sempre foi a busca pelos papéis inusitado, pelo olhar diferente".
Arrependimentos, ela diz não ter. Nem mesmo das cenas mais fortes com nudez e simulação de sexo, como as que protagonizou em "Baixio das bestas" (2006). "Não vou dizer que é fácil, mas conseguir fazer esse tipo de cena com dignidade, passando toda a realidade do personagem, é vencer um desafio. É como se fosse um vestibular para o ator".
Tal pensamento ela garante não ter mudado após o nascimento do primeiro filho, Inácio, há 1 ano e 3 meses, fruto do casamento com o cinegrafista Pablo Baião. "A maternidade não aumenta, nem diminui pudores. Depois da gravidez você tem vontade de ser mais mulher, de abandonar os vestidos larguinhos".
Momento melhor, portanto, não havia para a sensual Norminha ter aparecido. Embora os dias de farra da personagem estejam contados.
Na próxima segunda-feira (10), vai ao ar o capítulo em que o guarda Abel (Anderson Müller), marido de Norminha, descobrirá as puladas de cerca da mulher. As cenas do flagrante foram gravadas na última quinta (6).
"Independente de ser adúltera ou não, a Norminha passa uma mensagem muito importante para as mulheres: "se amem!" Ela tem uma altivez e uma alegria de viver, que acaba conquistando todo mundo", opina Dira, em constante exercício de lançar um olhar inusitado para seus papéis.



