
Isabelle Adjani é um mito na França. Estrela de filmes cultuados como Verão Assassino, Subway, Possessão e Rainha Margot, ela já tem seu nome inscrito definitivamente na história do cinema. Sem exageros: é uma das poucas atrizes indicadas duas vezes ao Oscar por obras não faladas em inglês, A História de Adéle H. e Camille Claudel. Em comum, as personagens desses filmes, ambos biográficos, tinham a loucura. Perdem a sanidade por conta de paixões doentias que as conduzem à insanidade.
Em seu mais recente trabalho, O Dia da Saia, que será exibido hoje no Festival Varilux de Cinema Francês, Isabelle volta a encarar um papel de mulher limítrofe. E, de novo, se sai muito bem. Venceu neste ano seu quinto César, prêmio máximo do cinema francês, pelo estupendo desempenho como Sonia Bergerac, uma professora amarga e agressiva. Dessa vez, contudo, a fonte de suas aflições não é um amor louco. Ela padece em decorrência de conflitos recorrentes nas escolas públicas de seu país: alunos agressivos e desinteressados; rixas e provocações entre as diferentes etnias e minorias religiosas; e a apatia da direção em conter os conflitos.
À base de antidepressivos e abalada com a recente separação do marido, Sonia, que esconde sua ancestralidade árabe, surta e tem um dia de fúria.
Depois de mais um começo de aula difícil e de sofrer o desrespeito habitual por parte dos estudantes, Sonia encontra uma arma em poder de um dos alunos. O garoto ameaça agredi-la e ela, apavorada, dispara acidentalmente. Sentindo-se acuada, ela decide manter a classe como refém, sob a mira da pistola.
Versão menos conciliatória e sutil de Entre os Muros da Escola, premiado filme de Laurent Cantet, O Dia da Saia dá a Isabelle Adjani a aportunidade de mostrar a grande atriz que é, sempre capaz de muitas nuances. O longa de Jean-Paul Lilienfeld também discute de forma contundente, por vezes até demais, o momento atual enfrentado pela França, que sob o governo assumidamente anti-imigração e xenófobo de Nicolas Sarkozy, enfrenta o desafio de lidar com o multiculturalismo crescente, decorrente de seu passado colonialista, forçando seus limites de tolerância. É um filme forte que merece ser visto. GGG1/2



